INTERNACIONAL

Violência na Venezuela foi 'mais letal' do que a pandemia, diz ONG

Com quase 12 mil mortes, a violência na Venezuela foi "mais letal" do que a pandemia da covid-19, segundo o Observatório Venezuelano da Violência (OVV), referência no país pela falta de dados oficiais sobre a criminalidade

AFP
29/12/2020 às 18:08.
Atualizado em 24/03/2022 às 00:22

Com quase 12 mil mortes, a violência na Venezuela foi "mais letal" do que a pandemia da covid-19, segundo o Observatório Venezuelano da Violência (OVV), referência no país pela falta de dados oficiais sobre a criminalidade.

Em 2020, foram registradas 11.891 mortes violentas, 45,6 por 100 mil habitantes, afirmou o OVV em seu relatório anual apresentado nesta terça-feira (29).

O número representa uma redução em relação a 2019, mas ainda é muito superior à média global e regional. A queda se deveu sobretudo à pandemia, mas a Venezuela se mantém como o país da América Latina com mais mortes violentas.

"No ano de 2020, a Venezuela foi castigada por duas epidemias: a de covid-19 e também a epidemia da violência", disse Roberto Briceño-León, presidente do OVV.

"Quando a gente observa os dados, vemos que a epidemia de violência foi 11 vezes mais letal do que a epidemia de covid-19", acrescentou, citando uma estatística de 4 mortos pela covid-19 por 100 mil habitantes no país.

O governo venezuelano reportou até a segunda-feira 1.018 mortes pelo coronavírus.

Do total de mortes violentas, 4.231 (35,5%) ocorreram nas mãos da polícia, no que se classifica como "resistência à autoridade", acima dos homicídios, que somara 4.153 e as chamadas "mortes em investigação", 3.507.

"Pela primeira vez foram mais os mortos pela polícia do que os assassinados pelos delinquentes", acrescentou Briceño-León, que alertou que a violência policial "se generalizou".

"Em 12 (dos 24) estados do país, a polícia matou mais do que os delinquentes", acrescentou o sociólogo. "Em 18 municípios do país não houve homicídios cometidos por delinquentes, mas sim houve vítimas de violência policial".

Metade das mortes foi cometida pelo órgão de investigação criminal (CICPC) e pela Polícia Nacional, por meio da temida Força de Ações Especiais (FAES), cuja dissolução foi pedida pela Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, após denúncias de milhares de execuções extrajudiciais.

O OVV destacou uma redução "importante" das "oportunidades do crime", devido à crise na Venezuela, cuja economia encolheu pela metade e enfrenta uma hiperinflação violenta.

"Mas também as cidades esvaziaram (pela pandemia) e isto restringiu as oportunidades para o delito", disse Briceño-León.

"Durante a quarentena, fecharam os comércios, os locais de diversão... Os toques de recolher, salvo-condutos, tudo isso desconcertou os grupos criminosos e os obrigou a uma paralisação".

Ele informou, ainda, que embora na Venezuela "haja menos delinquentes porque emigraram" em meio a um êxodo provocado pela crise econômica, "não é possível desconsiderar o impacto que pode ter tido também o processo de extermínio aplicado pelas ações extrajudiciais" das forças de ordem.

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