INTERNACIONAL

Venezuela vende gasolina por número de placa entre filas e protestos

Filas organizadas em Caracas e protestos na província. A Venezuela, diante de uma grave escassez de combustível, relançou nesta segunda-feira (5) um plano para a redistribuição da gasolina, respeitando o número da placa dos veículos

AFP
05/10/2020 às 23:26.
Atualizado em 24/03/2022 às 13:29

Filas organizadas em Caracas e protestos na província. A Venezuela, diante de uma grave escassez de combustível, relançou nesta segunda-feira (5) um plano para a redistribuição da gasolina, respeitando o número da placa dos veículos.

O racionamento de gasolina e as filas nos postos se tornaram "um modo de vida", lamenta Sofía Fermín, uma comerciante de 43 anos, que acordou em frente a uma distribuidora em La California, no leste de Caracas, para encher o tanque de seu carro.

A chegada de carregamentos de combustível do Irã nos últimos dias e, de acordo com o governo de Nicolás Maduro, a reativação de duas das principais refinarias do país permitiram reabastecer os postos após semanas de filas quilométricas.

Sofía acredita que o plano retomado pelo governo chavista, que no passado já havia implementado mecanismos de venda pelo número da placa dos carros, está longe de ser uma solução para o problema. "Eu não acredito", comenta, com ceticismo, à AFP.

A Venezuela, outrora potência petrolífera, divulgou em junho novos preços dolarizados para a gasolina, que durante anos foi das mais baratas do mundo devido ao congelamento de taxas em um país hiperinflacionário e com uma moeda local em depreciação violenta, o bolívar.

O governo socialista aumentou para 50 centavos de dólar o litro de combustível de alta octanagem, mas manteve um alto subsídio com uma tarifa em bolívares que agora equivale a pouco mais de um centavo de dólar por litro, somente válida com limite de consumo e registro prévio.

Muitos venezuelanos se veem obrigados a aturar intermináveis filas por combustível subsidiado. Os 20 dólares necessários para encher o tanque de um carro representam um luxo em um país onde a renda mínima mensal, composta por salário mais vale-alimentação, equivale a menos de dois dólares.

A Venezuela viu sua produção de petróleo cair de 3,2 milhões de barris por dia há doze anos para menos de 400 mil hoje, de acordo com a Opep. Seu sistema de refino não é estranho ao colapso.

"Este plano de regularização chegou em boa hora!", comemorou o presidente Nicolás Maduro no domingo.

Ao seu lado, o ministro do Petróleo, Tareck El Aissami, destacou que o posto que se recusar a abrir alegando problemas de estoque seria "tomado" e que o governo retiraria a concessão para vender combustível. "Todos os postos devem garantir a venda", alertou.

Não houve grandes incidentes em Caracas, mas a imprensa noticiou manifestações em cinco estados do país por falta de gasolina.

Segundo o Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais (OVCS), a escassez de combustível resultou em uma "onda de protestos" em meio à pandemia da covid-19. O lançamento do plano de distribuição de acordo com a placa dos veículos coincidiu com um dia de manifestações de professores de todo o país contra os baixos salários.

"Se a gasolina chegar, os protestos podem diminuir", disse o diretor do OVCS, Marco Ponce, em uma recente conferência em Caracas com a Associação de Imprensa Estrangeira (Apex).

Pedro González, de 67 anos, abasteceu seu tanque em um dos postos dolarizados de Caracas, com poucos veículos devido ao alto preço, o que contrastava com as longas filas nas distribuidoras que ofereciam combustível subsidiado, apurou a AFP.

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