INTERNACIONAL

Uma rota alternativa ao Mediterrâneo: a odisseia dos migrantes africanos naa Américas

Ahmed Kabeer sai mancando com uma cicatriz profunda na perna esquerda. Em sua longa fuga do Sudão enfrentou milhares de quilômetros e ainda tem que passar pelo inferno: a selva entre a Colômbia e o Panamá

AFP
11/02/2021 às 11:44.
Atualizado em 23/03/2022 às 17:39

Ahmed Kabeer sai mancando com uma cicatriz profunda na perna esquerda. Em sua longa fuga do Sudão enfrentou milhares de quilômetros e ainda tem que passar pelo inferno: a selva entre a Colômbia e o Panamá.

Kabeer embarcou em uma jornada diferente da dos árabes e africanos que se lançam no Mediterrâneo rumo à Europa. Ele preferiu fugir da guerra e da pobreza viajando entre continentes para um dia chegar aos Estados Unidos. "Há uma rota" pela América Latina, explicou à AFP.

Com ele estão 22 homens e mulheres do outro lado do mundo que passam despercebidos entre centenas de pessoas do Haiti e de Cuba. Quase nenhum fala espanhol, mas alguns são fluentes em português e atuam como intérpretes.

Após uma pausa forçada pela pandemia, eles esperam cruzar o Darien Gap, um corredor de floresta de 266 km entre a Colômbia e o Panamá.

Quase 700 migrantes ficaram bloqueados por semanas em Necoclí, na Colômbia, onde improvisaram um acampamento enquanto aguardavam a reabertura das fronteiras.

"Descobri que não é difícil conseguir visto para o Brasil", diz o sudanês de 34 anos, que já passou pelo Brasil, Peru e Equador. Da Colômbia irá para o Panamá e continuará avançando para o norte, rumo aos Estados Unidos. O percurso é possível sem documentos, mas com dinheiro no bolso. São fronteiras porosas onde o suborno é comum, explica ele.

A odisseia de Kabeer começou logo após a eclosão de um conflito interno no Sudão em 2003, envolvendo minorias étnicas.

No ano seguinte, sua mãe e seu tio foram assassinados. Ele decidiu fugir por vários países da África e do Oriente Médio até que Israel o expulsasse em 2018.

Ele retornou ao Sudão e, em 2019, foi capturado por agentes do Estado. Kabeer afirma que foi torturado por causa de sua filiação tribal. Uma cicatriz profunda atravessa a panturrilha esquerda até o calcanhar.

Ele fugiu para o Egito, onde abriu um pequeno negócio, mas foi assaltado. Desesperado, viajou como turista para São Paulo no ano passado.

Desde o desembarque, percorreu pelo menos 5.000 quilômetros por terra que, espera, o levará a "um lugar seguro onde posso falar inglês (...) como Estados Unidos ou Canadá".

A rota da Colômbia ao México geralmente leva entre sete e dez semanas.

A probabilidade de sofrer "violência física e psicológica é consideravelmente alta durante toda a viagem e especialmente entre a Colômbia e o Panamá", explica um porta-voz da Organização Internacional para as Migrações.

Lanternas, baterias e facões são essenciais para a próxima etapa. A viagem clandestina pelo Darién ocorre à noite e costuma durar cinco ou seis dias.

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