O presidente americano, Donald Trump, foi acusado nesta quarta-feira no Congresso, em um segundo processo de julgamento político, uma semana antes do fim de seu mandato, que será concluído em um clima de extrema tensão
O presidente americano, Donald Trump, foi acusado nesta quarta-feira no Congresso, em um segundo processo de julgamento político, uma semana antes do fim de seu mandato, que será concluído em um clima de extrema tensão.
A Câmara dos Representantes aprovou hoje o procedimento, acusando o presidente de incentivar a invasão ao Capitólio, sede do Congresso, na semana passada. O Senado não deve celebrar o julgamento antes de 20 de janeiro, quando o democrata Joe Biden assumirá a presidência, o que significa que o magnata do setor imobiliário se livrará do risco de ter que deixar o cargo antecipadamente.
Trump, no entanto, encerrará seu mandato com desonra, e enfrentará, depois, o julgamento no Senado. Se for condenado, provavelmente será impedido de disputar a presidência novamente em 2024. "Donald Trump merecidamente se tornou o primeiro presidente da História americana com a mácula de enfrentar o impeachment duas vezes", disse o senador democrata Chuck Schumer, que se tornará líder da Câmara alta em uma semana.
Na Câmara dos Representantes, a pergunta era apenas quantos republicanos haviam se unido à maioria democrata na votação por 232 a 197. Na contagem final, dez republicanos romperam com suas fileiras, inclusive a número três do partido na casa, Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney.
Com Washington sob tensão sete dias após o ataque ao Capitólio, Trump pediu calma. "Insisto para que NÃO haja violência, NÃO sejam cometidos delitos e NÃO haja vandalismo de nenhum tipo. Isso não é o que eu defendo, nem tampouco o que os Estados Unidos defendem", afirmou em um comunicado emitido pela Casa Branca.
"Hoje, de forma bipartidária, a Câmara mostrou que ninguém está acima da lei, nem mesmo o presidente dos Estados Unidos", declarou a presidente da casa, Nancy Pelosi, democrata. Antes, ela havia acusado Trump de ter incitado uma "rebelião armada" ao pedir votos pela sua deposição.
"O presidente dos Estados Unidos incitou esta insurreição, esta rebelião armada", declarou a líder democrata antes da votação da acusação formal pelo ataque ao Capitólio que deixou cinco mortos e chocou o mundo. "Deve partir. É um perigo claro e presente para a nação que todos amamos", disse ela em um Congresso entrincheirado.
A sete dias da posse de Joe Biden, Washington, sob um forte esquema de segurança, estava irreconhecível.
As imagens eram impactantes: dezenas de militares da reserva passaram a noite dentro do Congresso. Muitos dormiam no chão das salas e corredores.
Blocos de concreto separavam os cruzamentos principais do centro da cidade; enormes barreiras de metal cercavam prédios federais, incluindo a Casa Branca, e a Guarda Nacional estava por todos os lados.
Os debates na Câmara dos Representantes começaram às 9h locais (11h de Brasília) e a votação do impeachment, às 15h locais (17h de Brasília). Seu resultado marcou a abertura formal do processo de impeachment contra o 45º presidente americano.
As intervenções dos congressistas foram enérgicas. Trump é um "tirano", lançou a democrata Ilhan Omar. "Não podemos virar a página sem fazer nada", disse ela.
A republicana Nancy Mace afirmou que o Congresso deveria exigir que o presidente fosse responsabilizado por suas ações, mas considerou irresponsável agir de "forma precipitada".
Havia nuances nos discursos dos republicanos. O líder desse bloco na Câmara, Kevin McCarthy, reconheceu que Trump tem "responsabilidade" pelos distúrbios, mas considerou um erro submetê-lo a um impeachment em um curto espaço de tempo. Em vez disso, propôs uma declaração de "censura", que na prática tem um efeito basicamente simbólico.
Cada vez mais isolado, o tempestuoso presidente tentou ontem minimizar o procedimento contra ele, descrevendo-o como uma "continuação da maior caça às bruxas da história política". Também se negou a assumir qualquer responsabilidade pela invasão do Capitólio, afirmando que seu discurso que antecedeu o ocorrido foi "totalmente apropriado".