A iniciativa de Trevisan vem na esteira dos últimos acontecimentos em Campinas, em que três pessoas morreram por causa da doença depois de participarem de uma mesma festa em fazenda da região
As margens do rio Piracicaba são locais preferidos das capivaras e consideradas áreas de risco (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)
O vereador Laércio Trevisan (PL) encaminhou requerimento ao governo municipal solicitando informações sobre a incidência de febre maculosa em Piracicaba. Dentre suas questões está saber quando foi feito o último mapeamento das áreas de maior incidência de carrapato-estrela nas regiões de maior risco. O transmissor da doença é hospedeiro da capivara, animal silvestre que tem como habitat toda a orla do Rio Piracicaba.
A iniciativa de Trevisan vem na esteira dos últimos acontecimentos em Campinas, em que três pessoas morreram por causa da doença depois de participarem de uma mesma festa em fazenda da região. O vereador andou pela Rua do Porto e constatou o grande número de animais que transitam livremente pelas imediações dos restaurantes, do parque, do campo de futebol, que são frequentados por um número imenso de pessoas praticamente todos os dias. Mas não viu placas de sinalização a respeito.
“Estamos há dois anos e meio sem renovação das placas indicativas”, afirmou o vereador.
Nesse sentido, ele pergunta também se tem havido alguma política de manejo, para conter e administrar a ação livre dos animais, com controle populacional, uma vez que as capivaras não podem ser aprisionadas nem abatidas, segundo lei federal de preservação de espécies da fauna local. Ou ainda, se há algum trabalho educativo para que as pessoas saibam como se comportar em um ambiente em que o risco de contaminação é elevado.
Segundo o vereador, a capivara chega a ter até cinco filhotes a cada cinco meses, o que significa alto poder de multiplicação, criando inclusive uma situação de descontrole para a saúde pública. Ele cita como exemplo o próprio Parque da Rua do Porto. “O governo municipal chegou a interditar o local para fazer pulverização, tamanha era a incidência de carrapato-estrela na área de lazer. Agora, os animais voltaram a circular livremente na lagoa e seu entorno, como se o trabalho anterior tivesse sido inócuo. Isso gera um perigo grave à população”.
E continua: “De que adiantou todo aquele trabalho se as coisas voltaram a ser como era, sem o manejo dos animais? Os portões do parque deveriam ao menos ter mola para evitar que os bichos entrassem. Mas não. É falta de política pública e todos os que circulam pela Rua do Porto correm o risco de se contaminar. Isso é muito grave e requer medidas urgentes. Os casos recentes de Campinas devem servir como exemplo”.
Ele observou ainda o alto grau de letalidade da doença, se a pessoa se esquece de falar para o médico por onde andou nos últimos dias. Em caso de dúvida sobre o diagnóstico, mas sabendo que o paciente esteve em área de risco para a doença, o tratamento inicial já é contra a febre maculosa, o que salva vidas. Mas o diagnóstico errado eleva e muito o risco de óbito.
Sem casos neste ano
A Secretaria de Saúde de Piracicaba, por meio do Banco de Dados da Vigilância Epidemiológica Municipal, informa que em 2023 não foram confirmados casos de Febre Maculosa na cidade.
Conforme reforça Regina Lex Engel, bióloga do CCZ (Centro de Controle de Zoonoes) e que faz o monitoramento da doença na cidade, os números apontam para o controle da maculosa na cidade tendo em vista a não confirmação da doença neste ano. Apesar disso, Regina lembra que é preciso manter o alerta para os riscos da doença, transmitida pelo carrapato-estrela e que pode levar à morte.
“O período de maior incidência da febre maculosa no Estado de São Paulo começou em maio e segue até setembro, porém, em Piracicaba é diferente já que os casos podem surgir durante todo ano. Isso porque temos fatores que contribuem para isso, como o rio que corta a cidade e isso exige ainda mais cuidado tanto da população quanto do poder público. O rio é considerado cartão-postal da cidade, atraindo muitos piracicabanos e turistas às suas margens o que é normal por sua beleza, no entanto, o local também é o preferido das capivaras, um dos principais hospedeiros do carrapato-estrela, por isso o CCZ mantém placas de alertas da presença do carrapato e da doença, além de manter diversas ações de orientação e conscientização da população durante o ano todo, de forma ininterrupta”, afirma.
Além das margens do Piracicaba, desde o bairro Monte Alegre até Artemis, outras áreas identificadas como de maior risco de contaminação da doença são as margens do ribeirão Piracicamirim, Córrego Guamiun, a lagoa do Santa Rita e a margem do rio Corumbataí, ou seja, toda região em que se encontra a capivara. A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (Simap) disponibilizou ainda placas de alerta no parque da Rua do Porto, que também é considerado área de risco de contaminação. Entretanto, até o momento, não há previsão para realização de novo projeto de manejo.