INTERNACIONAL

Teste de virgindade no Paquistão: um segundo estupro e um obstáculo à justiça

Estuprada aos 14 anos, Shazia teve a coragem de informar a polícia, algo raro no Paquistão, onde as vítimas costumam ser estigmatizadas

AFP
13/01/2021 às 10:22.
Atualizado em 23/03/2022 às 19:27

Estuprada aos 14 anos, Shazia teve a coragem de informar a polícia, algo raro no Paquistão, onde as vítimas costumam ser estigmatizadas. Mas ela não estava preparada para o que viria a seguir.

A estudante ainda estava em choque após ser estuprada por um primo de seu pai, quando a polícia a obrigou a fazer um teste de virgindade. Essa prática é comum no Paquistão, embora esteja lentamente começando a ser questionada.

Em um país onde a suposta virgindade de uma mulher é uma garantia de honra, esse teste, chamado de teste dos "dois dedos", visa esclarecer o passado sexual da vítima.

A médica "me disse para abrir as pernas e colocou os dedos", explica Shazia - seu nome foi mudado - em uma entrevista por escrito à AFP.

"Foi muito doloroso. Não sabia o que ela estava fazendo. Gostaria que minha mãe estivesse presente", acrescenta.

No Paquistão, os estupros são raramente denunciados e a palavra das vítimas só têm valor relativo, já que grande parte do país vive sob um código patriarcal que sistematiza a opressão das mulheres.

O teste de virgindade, que consiste em inserir dois dedos na vagina da suposta vítima para ver se eles "entram facilmente", às vezes é considerado um elemento central na investigação policial.

Deve ser feito por uma mulher, mas nem sempre é o caso. Pode ser praticado como um exame visual do hímen, para observar eventuais cicatrizes.

Seu resultado pode facilmente mudar o curso de uma investigação. E as mulheres solteiras perdem instantaneamente todo o crédito se forem definidas como sexualmente ativas.

De acordo com dados oficiais, apenas 0,3% dos casos de estupro no Paquistão terminam em condenação. Defensores dos direitos das mulheres e advogados consideram que este exame explica em grande parte a percentagem muito baixa de denúncias.

Para além das consequências jurídicas, é muito traumático para as vítimas, sujeitas a uma forte estigmatização social que por vezes as impede de casar posteriormente.

"Eles não me disseram como iriam me examinar", diz Shazia, agredida em 2018. "Apenas me disseram que um médico deveria me ver para ajudar a polícia".

Temendo uma desgraça para sua família, os pais da jovem, que apresentaram a denúncia, posteriormente a retiraram.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que os testes de virgindade, comuns em cerca de vinte países ao redor do mundo, não têm valor científico e representam uma violação dos direitos humanos.

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