Sem jornalistas na sede, nenhum contato e mascarados. Após cinco dias e quatro noites de negociações, marcadas por reprovações e divergências, os líderes europeus finalmente alcançaram seu plano de recuperação econômica
Sem jornalistas na sede, nenhum contato e mascarados. Após cinco dias e quatro noites de negociações, marcadas por reprovações e divergências, os líderes europeus finalmente alcançaram seu plano de recuperação econômica.
"É o nosso projeto europeu que está em jogo", alertou o presidente francês, Emmanuel Macron, ao chegar a Bruxelas para a primeira cúpula presencial desde o confinamento.
Na sala do Conselho, distantes um do outro, 24 homens e cinco mulheres de máscara se cumprimentaram com cotovelos, acompanhados por no máximo quatro pessoas de sua equipe.
Dois eram aniversariantes: o português António Costa (59) e a alemã Angela Merkel (66), que ganhou vinho, chocolates e um exemplar de "Ensaio sobre a Cegueira", de José Saramago.
Merkel previu negociações "muito difíceis".
O holandês Mark Rutte, líder dos países "frugais" - Holanda, Dinamarca, Áustria e Suécia - que defendem um plano menos ambicioso, viu apenas "50%" de sucesso.
O dia começou suavemente, por sete horas. Tudo ficou tenso no jantar, quando Rutte definiu uma condição: direito de veto para o desembolso da ajuda do plano de recuperação.
Sua posição, vista como "muito dura e pouco construtiva", irritou seus colegas. Ele descreveu "um ambiente um tanto febril".
Os "frugais", inflexíveis, incomodam.
"Todos devem fazer pequenas concessões. Alguns países não entendem", disse um diplomata. "Estamos em ponto morto", assegurou o italiano Giuseppe Conte.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, apresentou uma nova proposta de consenso com acenos aos "frugais", como controle mais rígido dos planos nacionais, mas com mais nuances do que o de Rutte.
Os líderes discutem o assunto com Michel, ao longo do dia, no 11º andar da sede do Conselho.
No final do jantar, Macron e Merkel se reúnem com os líderes desses países e da Finlândia. A reunião é "muito difícil", a ponto de ambos decidirem sair.
Boatos de que Macron pediu que preparassem seu avião, caso decidisse retornar para Paris. Um holandês ironiza: "Ouvi dizer que Rutte pediu para inflar as rodas de sua bicicleta".