O domínio do futebol sul-americano imposto pelo milionário Flamengo em 2019, recentemente reafirmado com a conquista da Recopa, contrasta com as dificuldades que as equipes brasileiras enfrentam nos torneios continentais
O domínio do futebol sul-americano imposto pelo milionário Flamengo em 2019, recentemente reafirmado com a conquista da Recopa, contrasta com as dificuldades que as equipes brasileiras enfrentam nos torneios continentais.
Cinco dos quatorze clubes brasileiros que disputaram as competições da Conmebol este ano já foram eliminados, um recorde desde que as duas competições unificaram calendários, antes mesmo do início da fase de grupos da Libertadores.
O Corinthians caiu na segunda fase da pré-Libertadores contra o modesto Guarani do Paraguai, que já havia sido carrasco do Timão na segunda fase de 2015.
Na Sul-americana, Fluminense, Atlético Mineiro, Goiás e Fortaleza se despediram na primeira fase, eliminados por Unión La Calera (Chile), Unión Santa Fé (Argentina), Sol de América (Paraguai) e Independiente (Argentina), respectivamente.
Exceto no último caso, as outras três equipes eram, por história e orçamento, inferiores aos adversários brasileiros, embora no campo tenham mostrado o contrário.
Para Fernando Martinho, editor da revista Córner, "O mercado brasileiro é muito fechado em si, muito inflacionado, e acaba que os jogadores aqui que ganham muito mas não são melhores que outros que estão no restante do continente. Claro, o Flamengo é um ponte fora da curva".
"O mercado sul-americano é muito pouco centralizado e com o Brasil acaba acontecendo o mesmo que na Premier League, onde o mercado interno é muito valorizado, muito inflacionado. Os jogadores médios aqui ganham muito dinheiro, tanto que em muitos casos, é difícil eles irem para a Europa porque ganham mais aqui do que ganhariam lá, porque teriam que ir para um time de segundo escalão", acrescentou Martinho, comentarista da TV Fox Sports nos jogos da Superliga argentina.
O caso brasileiro, disse Martinho à AFP, se contrapõe ao da Argentina, "que acaba exercendo uma influência no mercado da América do Sul até por ser uma vitrine melhor para jogadores. Às vezes jogadores da Colômbia, Equador ou Chile, ou sobretudo Uruguai, vão para um time da Argentina porque sabem que ali ele serão valorizados o suficiente e vão estar em um mercado mais vulnerável para uma abordagem europeia".
Para Martinho, a pouca presença de estrangeiros no futebol brasileiro é comparável ao cenário no mundo russo ou árabe.
"O jogador sul-americano acaba não vindo ao Brasil, são poucos. Aqui acabam ganhando muito, mas fechando portas do mercado para eles. É como o jogador que vai para a Rússia ou Oriente Médio. Vai ganhar muito dinheiro, mas estará fora do grande centro do futebol mundial: a Europa. Os times brasileiros têm muito mais orçamento, mas acabam não colocando isso em prática dentro do campo", lamentou.
O jornalista Fabio Chiorinho, do canal ESPN, justificou as "quedas precoces" das equipes brasileiras por vários fatores, como "a proliferação de vagas nos torneios sul-americanos, que podem causar distorções significativas".
"O Corinthians ficou em oitavo lugar no último Brasileiro e conquistou o último lugar da fase preliminar da Libertadores. Não há mérito nessa classificação", disse Chiorinho à AFP.