Empresário, que estará à frente do Simesp nos próximos três anos, diz que quer deixar a sua marca na instituição (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)
Não é fácil identificar o empresário que atua na linha de frente do seu tempo. Lemann, por exemplo, que era o “simbolmoney” do sucesso na Forbes, pode estar mais próximo do especulador agressivo e bem-sucedido do gain and loss das aplicações financeiras do que de um gestor com visão de futuro.
Gestão de qualidade exige conceito de qualidade para defini-la. Há, portanto, certos parâmetros que definem a relação do empreendedor com seu negócio e o posiciona além do lugar comum, mas nem todos são fáceis de teorizar, pois se apresentam melhor quando exemplificados.
Essas relações, quando bem-sucedidas, não significam necessariamente projeção imediata de suas lideranças no cenário midiático. Muito pelo contrário. Ficam ali latente, se desenvolvem em processos lentos, por anos, até despertar atenção, quando se revelam e começam a desenhar um novo futuro.
Não se trata aqui de clichê politicamente correto, mas de superação de velhos obstáculos, a partir do momento em que se assume ações sociais capazes de construir uma nova base de relação com o sucesso, que pode ser inclusive econômico, mas é, antes de tudo, com o bem-estar comum.
Experiência e Simespi
O preâmbulo acima é para tentar localizar o empresário Erick Gomes, diretor da empresa de caldeiraria DanPower, instalada no Distrito Industrial Uninorte, em Piracicaba. Aos 47 anos e uma longa experiência de chão de fábrica, ele disse que todo os recursos gerados pela sua empresa são reinvestidos na própria empresa, seja com melhoria na estrutura de trabalho ou na qualificação dos colaboradores. “Nessa engrenagem, quem menos faz falta sou eu”, enfatiza.
Foi com esse espírito, de ver uma estrutura funcionando com qualidade, que ele assumiu este ano a presidência do Sindicato Patronal das Indústrias, Simespi, do qual ele colaborava com vice-presidente na gestão anterior. “Tive uma bela experiência com o ex-presidente, Euclides Libardi, e pretendo agora deixar minha marca na instituição, na qual estarei no comando pelos próximos três anos”, disse.
E qual é a marca que ele pretende deixar? A marca da formação, da educação empresarial, do trabalho sério e criterioso. “Venho do setor automotivo, onde trabalhei durante 22 anos. De lá eu trago esse conceito de ordem e integração de equipe. Ao assumir um posto de comando nesta empresa criada pelo meu pai, a DanPower, decidi aplicar tudo o que aprendi em termos de eficácia e redução de qualquer tipo de desperdício. Meus colaboradores têm acesso livre à minha sala, onde podem entrar a qualquer momento, se estiverem imbuídos de uma boa causa para o bem comum. Aceito até reprimendas da minha pessoa se eu estiver errado, sem fazer cara feia”.
Gomes observa que Piracicaba é um modelo nacional para o setor metalomecânico. “Em uma década, saímos da 24ª posição para a 10ª em 2022 graças ao empenho dos empresários para melhorarem o mercado, o ambiente de trabalho, a produtividade, a capacitação, a relação institucional, enfim. Trata-se de um setor bem desenvolvido e consciente de suas responsabilidades sociais e econômicas. É nessa linha que pretendo deixar minha marca como presidente do Simespi, onde tive o privilégio de compartilhar da sabedoria do senhor Euclides Libardi para a função.”
Capacitação
Erick Gomes é um grande crítico do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por proibir o trabalho formal de jovens entre 14 e 16 anos. “Pelo fato de eles poderem trabalhar apenas como jovens aprendizes encurta muito as possibilidades de mercado. Conheço muita gente que começou cedo e construiu uma carreira estruturada. Eu, por exemplo, pude estudar simultaneamente e fazer tudo o que eu queria. Os jovens nesta idade não poderem ajudar na renda doméstica é muito ruim para as famílias com menor poder aquisitivo e também para a sociedade. Sem essa oportunidade, a rua se torna o caminho natural dos jovens, consequentemente, o risco de se envolverem com ideias erradas ampliam sobremaneira. Mas aí, já e tarde”.
Nesse sentido, o Simespi tem desenvolvido projetos para jovens das comunidades, que estão em fase de implantação. Logo em janeiro foi dado início em um curso de formação para o setor industrial, no Senai. Outros estão a caminho e devem ser colocados em prática ainda no primeiro trimestre. “Este trabalho não é só meu. É ideia acalentada pelo senhor Euclides e pelo sindicado dos metalúrgicos. Ver jovens nas ruas dos bairros periféricos, sem quaisquer perspectivas é uma realidade que sempre nos entristeceu. Agora estamos dando esta arrancada, com apoio do Exército das Formiguinhas, ligado à Diocese, que fez o cadastramento dos jovens para a formação que estamos oferecendo, que pode ser ampliada com a flexibilização do ECA”, explicou Gomes.
Gomes considera esse trabalho social e prático para os jovens um avanço importante. “Por tudo que já estudamos, sabemos que de nada adianta se apenas darmos o peixe para eles. Se não souberem pescar terão sempre dificuldades para encarar a vida. Portando, a única solução real é dar a eles a vara de pescar e ensinar o caminho do rio. O resto depende exclusivamente de cada um”, sentenciou.
O empresário acredita no poder da política e das relações políticas para que a realidade melhore. “Temos um intercâmbio bem bom com os nossos deputados, vereadores e prefeito. Inclusive, o prefeito Luciano Almeida foi o primeiro presidente do Simespi e temos trabalhado em parceria com o município. Trata-se de uma relação institucional. Evidente que o Simespi não pode tomar partido, mas eu, pessoalmente, sim”, disse. A síntese de Gomes é a seguinte: “Somente de uma coisa eu tenho a certeza. Devo acordar todos os dias à 5 hora, porque às 7 horas tenho que estar aqui na fábrica. Invisto todo o meu potencial na melhoria contínua da minha equipe e da estrutura da fábrica. Não sou rico, mas levo uma boa vida. Procuro oferecer esta visão de mundo, via Simespi, para a sociedade. Quero que esses jovens descubram seu potencial e vejam o Simespi como a porta aberta para um futuro melhor. Esse exercício articulado tem tudo para gerar bons frutos para toda a cidade”, concluiu.