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Sem visão e traumatizados: testemunhos de sobreviventes da explosão em Beirute

Primeiro veio a fumaça branca, seguida por uma explosão laranja e, pouco depois, uma nuvem preta. Essas são as últimas imagens de Rony Mecattaf antes de acordar com apenas um olho e uma Beirute destruída pela explosão

AFP
18/08/2020 às 11:03.
Atualizado em 25/03/2022 às 16:28

Primeiro veio a fumaça branca, seguida por uma explosão laranja e, pouco depois, uma nuvem preta. Essas são as últimas imagens de Rony Mecattaf antes de acordar com apenas um olho e uma Beirute destruída pela explosão.

"Perdi toda a visão lateral e talvez a imagem de mim mesmo. Quando me olho no espelho, não vejo a percepção que tinha de mim com os dois olhos", afirma este psicoterapeuta de 59 anos.

A explosão brutal de 4 de agosto no porto da capital libanesa causou pelo menos 177 mortes e mais de 6.500 feridos, a maioria deles por cacos de vidro.

Dessas pessoas, pelo menos 400 sofreram lesões oculares, mais de 50 precisaram de cirurgia e ao menos 15 ficaram com apenas um olho, segundo dados dos hospitais da região de Beirute.

Dez dias após a tragédia, Mecattaf ainda enxuga o sangue que às vezes emana de uma grande cicatriz que atravessa verticalmente sua pálpebra direita.

Mecattaf estava na varanda de um amigo, com vista para o porto, quando a explosão o jogou para a porta de entrada como "um grão de poeira". Ele ainda não sabe se foi a porta ou um pedaço de vidro que mutilou seu olho.

Seus médicos afirmaram que poderia ter sido simplesmente a onda da explosão, o que tornaria difícil repará-lo.

Ele sobreviveu graças a uma "série de intervenções angelicais" nas horas seguintes ao drama, com a ajuda de desconhecidos que o levaram a dois hospitais - já que o primeiro estava completamente danificado pela explosão.

"A cidade era uma visão do inferno", lembra Mecattaf, que finalmente conseguiu ser operado em Sidon, no sul do Líbano, graças a um amigo. Mas, após duas horas de esforços, os médicos não conseguiram salvar seu olho.

Em um hospital ao norte de Beirute, Maroun Dagher faz sua revisão semanal. Para este cientista da computação de 34 anos, a explosão "mudou tudo".

Seu rosto ficou colado a uma janela em uma rua muito próxima do porto e um caco de vidro de dois centímetros perfurou seu olho esquerdo.

Nos primeiros dias após a explosão, a dor "era apenas física". Mas a agonia não parou por aí. Alguns dias depois, ele soube que sua visão provavelmente foi afetada de forma permanente.

"Tenho sonhos em que consigo ver tudo, mas depois acordo", conta. "Nesse momento sinto emoções ruins [...] Você simplesmente acorda meio cego", lamenta.

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