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Sem esperança em Baltimore, marco zero do 'apartheid urbano' nos EUA

Demon Lane está convencido de que seu bairro do leste de Baltimore continuará tomado pelo tráfico de drogas, tiroteios, casas abandonadas infestadas de ratos e desesperança, não importa quem ganhe a eleição presidencial de 3 de novembro nos Estados Unidos

AFP
20/10/2020 às 10:05.
Atualizado em 24/03/2022 às 10:06

Demon Lane está convencido de que seu bairro do leste de Baltimore continuará tomado pelo tráfico de drogas, tiroteios, casas abandonadas infestadas de ratos e desesperança, não importa quem ganhe a eleição presidencial de 3 de novembro nos Estados Unidos.

Majoritariamente negra, profundamente pobre e devastada por décadas de abandono, a área em que vive contrasta fortemente com os prédios caros, lojas da moda e ruas seguras a apenas alguns quilômetros de distância, em bairros brancos ricos.

Quase dois terços da população de Baltimore é de afrodescendentes.

No entanto, esta cidade portuária próxima a Washington é classificada como uma das mais segregadas do país, onde os especialistas estimam que os moradores negros mais pobres vivem cerca de 20 anos menos do que as pessoas em bairros brancos ricos.

"Não houve mudanças com os últimos três presidentes. Portanto, não haverá mudanças com este próximo", diz Lane, de 27 anos, à AFP, na entrada da casa geminada que divide com sua esposa e os três filhos pequenos.

Do outro lado da rua, o lixo se acumula e, na maior parte do quarteirão, a grama cobre o vão das casas abandonadas que foram demolidas, como acontece com muitos dos milhares de edifícios vazios em uma cidade atormentada pelo violência nas ruas.

Ao fundo, passando por outro quarteirão de casas vazias, há um ponto de venda de drogas denominado "central do crack". Nos meses mais quentes do ano, Lane diz que ouve tiroteios cerca de três vezes por dia.

"Não tenho esperança. Só tenho esperança em mim mesmo, no que posso fazer pela minha família", acrescenta.

Os problemas de Baltimore têm sido uma ferramenta política para o presidente Donald Trump, que repetidamente atacou esta cidade, governada por democratas por décadas, chamando-a de "a pior do país".

A frustração com a desigualdade racial explodiu em 2015 após a morte de Freddie Gray, um homem de 25 anos sob custódia policial; bem como durante os protestos nacionais do movimento Black Lives Matter, que encontrou forte ressonância na cidade.

Em algumas áreas de Baltimore, a leste e oeste do centro da cidade, a população é 90% negra e com renda média de US$ 14.000 por ano, de acordo com dados municipais de 2016.

Em algumas das áreas mais ricas, com renda média chegando a US$ 110 mil, os brancos representam 85% da população, de acordo com a mesma fonte.

Uma divisão que, segundo especialistas, vem de um passado de racismo na cidade.

"Baltimore é o marco zero para o apartheid urbano nos Estados Unidos", disse o pesquisador e ativista Lawrence Brown em entrevista publicada no YouTube este ano.

Em 1910, os líderes da cidade aprovaram a primeira lei de zoneamento racial da história americana, segundo a qual os negros não podiam se mudar para prédios de maioria branca e vice-versa.

A Suprema Corte derrubou a lei sete anos depois, mas outras medidas, como "cláusulas restritivas" em títulos de propriedade que proibiam seu uso, ou aluguel, para um afro-americano, permaneceram aplicáveis por décadas.

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