Na falta de equipamentos de proteção e diagnóstico, muitos médicos russos se tornaram vítimas e, às vezes, vetores da COVID-19, de acordo com testemunhos coletados pela AFP e pelos sindicatos
Na falta de equipamentos de proteção e diagnóstico, muitos médicos russos se tornaram vítimas e, às vezes, vetores da COVID-19, de acordo com testemunhos coletados pela AFP e pelos sindicatos.
Em Mytishchi, uma cidade nas proximidades de Moscou com 250.000 habitantes, a incidência da doença é três vezes maior do que a média nacional (32,1/100.000), com 302 casos reportados nesta quarta-feira, 137 por 100.000 habitantes.
No entanto, falta equipamento de proteção, diz Olga, médica de uma policlínica da cidade.
"Eles nos dão uma máscara descartável por dia, apesar de ter que ser trocada a cada duas horas. Somos obrigados a comprá-las, assim como luvas. E nunca vimos roupas de proteção", denuncia.
Na esperança de melhorar seu sistema imunológico, esta médica toma chá de limão com gengibre. "É tudo o que posso fazer", diz frustrada.
Nessas condições, o pessoal da saúde se tornou um vetor do novo coronavírus, afirma, garantindo que a direção de sua clínica sabe da situação, mas não faz nada.
"Uma de nossas médicas testou positivo, todos nós estivemos com ela, mas a direção (...) não colocou ninguém em quarentena. Se estivéssemos em quarentena, não haveria ninguém para trabalhar", explica Olga.
Andrei Konoval, copresidente do sindicato dos médicos "Action", considera que esta situação é a regra.
"Faltam meios de proteção nos hospitais em praticamente todas as regiões da Rússia", diz ele, razão pela qual os testes de diagnóstico em equipes médicas são frequentemente evitados por causa do "medo da falta de médicos".
Ivan Konovalov, chefe da Aliança dos Médicos, sindicato ligado ao opositor Alexei Navalny, disse à AFP que recebeu "dezenas de reclamações de médicos denunciando a recusa de sua gerência em submeter o pessoal da saúde a testes de diagnóstico".
Em São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia, com 5 milhões de habitantes, a situação não é melhor.
O médico Piotr disse à AFP que a escassez é tão grave que "a administração do hospital disse que não haverá" nenhum suprimento de equipamentos de proteção.
"Estamos diante do cenário italiano. A comunidade médica espera o pior", garante o médico, que prefere não fornecer seu sobrenome.
Os médicos do hospital Pokrovskaya de São Petersburgo enviaram uma carta ao governador e ao promotor, denunciando que áreas potencialmente infectadas, chamadas de "vermelhas", e as limpas, "verdes", não são identificadas ou separadas nos centros médicos.
Segundo eles, 27 pacientes e cinco membros profissionais da saúde estão infectados.