INTERNACIONAL

Repressão aumenta ira dos libaneses por explosão

Firas Hamdan tem uma grande cicatriz no torso. As costas de Zeina carregam marcas de balas. Ambos sobreviveram à explosão em Beirute, mas não escaparam da violenta repressão às manifestações alguns dias depois

AFP
20/08/2020 às 09:14.
Atualizado em 25/03/2022 às 16:03

Firas Hamdan tem uma grande cicatriz no torso. As costas de Zeina carregam marcas de balas. Ambos sobreviveram à explosão em Beirute, mas não escaparam da violenta repressão às manifestações alguns dias depois.

"Alguns perderam a visão e outros foram atacados com balas de chumbo, como eu, que recebi uma no peito e que ainda está alojada no coração", lamenta Firas, advogado de 33 anos.

"Isso nos fez descobrir que não vivemos em um país normal", disse à AFP.

Nos dias que se seguiram à explosão de 4 de agosto no porto de Beirute, as forças de segurança e indivíduos à paisana dispararam gás lacrimogêneo, balas de borracha e de chumbo contra os manifestantes, de acordo com ONGs e participantes dos protestos.

Membro do comitê de defesa dos manifestantes na Ordem dos Advogados de Beirute, Firas Hamdan costumava documentar violações contra participantes nos protestos. Mas nunca pensou que iria acabar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Depois de ser transferido para o hospital, foi submetido a uma cirurgia, mas os médicos não conseguiram remover a bala que se alojou em seu coração. Muito arriscado.

O advogado estava entre as milhares de pessoas que protestaram no centro da capital quatro dias depois da explosão no porto, que matou pelo menos 181 pessoas e feriu mais de 6.500.

Muitos libaneses culpam as autoridades, vistas como corruptas e incompetentes, pela tragédia. E a repressão aos manifestantes só aumentou a raiva.

Zeina, de 50 anos, que utiliza um nome falso, protestava em 11 de agosto perto do Parlamento. Quando se afastava do gás lacrimogêneo, foi repentinamente atingida por duas balas de chumbo.

"Primeiro senti uma pancada nas costas (...) depois dei dois passos antes de sentir outra dor na mão e cair no chão", lembra.

Esta mãe de três filhos frequenta os protestos contra o governo desde o início da contestação, em outubro passado.

"Já fui vítima de tiros de franco-atiradores. Não sei quem atirou, mas não vimos forças de segurança perto de nós (...) Isso é tentativa de homicídio", acusou.

Na semana passada, um grupo de médicos chamado "camisas brancas" confirmou em entrevista coletiva que pelo menos 60 pessoas ficaram gravemente feridas durante manifestações por tiros de balas de borracha e de chumbo, às vezes nos olhos, peito ou rosto.

Um membro do grupo, o Dr. Selim Nasser, disse estar particularmente preocupado com o uso sem precedentes de balas de chumbo. Elas "causam ferimentos graves rasgando a pele", disse à AFP.

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