A área de mata de Loreto, onde nasce o rio Amazonas, na fronteira com Brasil, Colômbia e Equador, tornou-se a segunda do Peru com mais casos de coronavírus depois da capital, Lima, apesar de ser a menos populosa do país, segundo o balanço oficial
A área de mata de Loreto, onde nasce o rio Amazonas, na fronteira com Brasil, Colômbia e Equador, tornou-se a segunda do Peru com mais casos de coronavírus depois da capital, Lima, apesar de ser a menos populosa do país, segundo o balanço oficial.
Nesta remota região fronteiriça foram detectados 53 dos 950 casos de covid-19 no país. Lima aparece em primeiro lugar, com 718. No país morreram 23 pessoas com o coronavírus, segundo balanço divulgado nesta segunda-feira (30).
"Nossa Amazônia foi atingida pela dengue (com pelo menos 22 mortos este ano), à qual se soma a pandemia pelo coronavírus; o aumento de casos em Loreto resultou em um aumento de pacientes hospitalizados e com gravidade", disse o ministro da Saúde, Víctor Zamora, durante visita à capital regional, Iquitos.
Treze dos 53 infectados estão internados em Iquitos. Nesta cidade só havia quatro respiradores artificiais, razão pela qual foram enviados equipamentos adicionais.
"Os testes moleculares (de covid-19) são muito limitados, temos apenas 40 destes testes" disponíveis e por isso o exame "só fazemos em alguns pacientes que apresentam os sintomas, os mais graves", disse o governador de Loreto, Elisban Ochoa.
No Peru vigora desde 16 de março um isolamento social obrigatório, que restringe a liberdade das pessoas em ir às ruas, assim como um toque de recolher noturno.
Nesta segunda, o governo ampliou o toque a partir de terça-feira de nove para 13 horas em Loreto, duas horas a mais que em Lima e na maioria das outras regiões do país.
Na semana passada, comunidades indígenas do Peru e uma ONG internacional pediram para restringir o acesso à Amazônia para impedir a propagação do coronavírus entre os povos originários, que estão entre "os mais vulneráveis do planeta" diante da pandemia.
A Organização de Povos Indígenas do Oriente (Orpio), que reúne comunidades amazônicas do Peru, advertiu que mais de 60% das aldeias da floresta peruana carece de centros de saúde ou estes "não contam com equipamentos ou medicamentos".
Entre os 53 afetados em Loreto está o bispo católico José Javier Travieso, de 72 anos, que já se recuperou, confirmou a Conferência Episcopal.
Nesta vasta área onde a navegação fluvial é o principal meio de transporte, "a distância de uma comunidade a um posto médico mais próximo pode levar, no mínimo, entre 6 a 8 horas e inclusive até três dias ou mais", segundo a Orpio.
A ONG Amazon Watch, com sede nos Estados Unidos, advertiu que a pandemia "pode ter um efeito devastador nos povos indígenas" e pediu para decretar "uma moratória sobre qualquer atividade que implique a entrada de forasteiros em territórios indígenas", incluindo a mineração e as missões religiosas.
O Brasil e outros oito países compartilham a Amazônia, entre eles o Peru, onde a floresta abrange quase dois terços do território.
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