Os locais previstos pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para instalar recifes artificiais e liberar a pesca esportiva atingem áreas onde vivem 110 espécies ameaçadas de extinção, aponta documento do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio)
Os locais previstos pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para instalar recifes artificiais e liberar a pesca esportiva atingem áreas onde vivem 110 espécies ameaçadas de extinção, aponta documento do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). As informações foram obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação.
Apesar da restrição, o coronel Homero de Giorge Cerqueira, presidente do instituto, disse, em ofício ao ministério, que "não se opõe" ao plano.
Para viabilizar o projeto de lançar sucatas de barcos e maquinário militar no fundo do oceano, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) questionou o ICMBio sobre quais seriam os impactos da ideia. A reportagem obteve a resposta que o ministério recebeu, na semana passada, elaborada pela Coordenação de Ações para Conservação de Espécies do ICMBio.
No documento, o órgão alertou que os pontos previstos na proposta pelo ministério estão em três unidades de conservação federais: o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PE), a Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha e a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, que engloba Maragogi (AL) e São Miguel dos Milagres (AL). Nenhuma delas possui hoje regras ambientais para receber recifes artificiais ou pesca esportiva.
No documento, o ICMBio alerta que, nessas unidades, vivem 110 espécies ameaçadas de extinção. A lista é composta por aves marinhas (23 espécies), tartarugas (5), peixes (61), mamíferos (3) e invertebrados (18). O peixe-boi marinho e o boto-cinza são espécies de mamíferos que estão sob risco.
O instituto menciona espécies como o mero, peixe que chega a medir mais de 2 metros e a pesar mais de 400 quilos. Cavalos-marinhos, tartarugas e o marlim-azul, um ícone dos oceanos, que chega a pesar mais de 700 quilos, também apareceram na lista.
Em sua análise técnica, o instituto alertou: "Tendo em vista que quatro unidades de conservação federais podem ser afetadas pela proposta apresentada, é relevante que seja avaliada a compatibilidade [DA IDEIA]com os objetivos da unidade de conservação e seu plano de manejo".
O ICMBio criticou ainda a intenção do governo de lançar sucatas do Exército no fundo mar, como um lança-míssil e dez canhões antiaéreos. O instituto afirmou ainda que, conforme já é sabido pelo MMA, "existe baixo interesse dos mergulhadores em visitar este tipo de estrutura que não tem correlação com o ambiente marinho".
O Ministério do Meio Ambiente foi procurado ontem, mas não se manifestou.
Ofício
A comunicação do coronel Homero dando aval à proposta dos recifes artificiais foi oficializada ao ministério horas depois de o Estado revelar as restrições que foram previstas no laudo técnico do ICMBio.
No documento, o presidente do instituto chega a repetir parte das informações sobre riscos do projeto para espécies em extinção, mas faz um adendo: "Não nos opomos à iniciativa de recifes artificiais". Procurado, o ICMBio não se manifestou sobre o ofício ontem.
Nesta semana, em sua viagem aos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro gravou vídeo ao lado do presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Gilson Machado, e do secretário da Pesca, Jorge Seif Júnior, afirmando que os "ecochatos" não vão atrapalhar o plano do governo. A proposta de criar recifes artificiais e liberar a pesca esportiva em áreas protegidas tem sido tocada pelo governo Bolsonaro sem qualquer tipo de consulta ou intermediação com os Estados. A Marinha já analisou, sob o ponto de vista de risco à navegação, a lista de 128 pontos para instalação de recifes artificiais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.