A "moribunda" relação transatlântica ainda pode ser salva? As disputas com os europeus que afetaram a presidência de Donald Trump abriram uma brecha difícil de superar, independente do resultado das eleições americanas, de acordo com os analistas
A "moribunda" relação transatlântica ainda pode ser salva? As disputas com os europeus que afetaram a presidência de Donald Trump abriram uma brecha difícil de superar, independente do resultado das eleições americanas, de acordo com os analistas.
Para a Alemanha, alvo favorito do presidente americano, o mandato termina como começou: com uma série de ataques de Trump contra o país, que ele chama de "mau pagador" e que teria tomado os Estados Unidos por "tontos".
Com estes termos, nada lisonjeiros, Donald Trump justificou a decisão de retirar quase 12.000 militares americanos da Alemanha.
E Berlim, que tradicionalmente é um dos aliados mais próximos de Washington no Velho Continente, acabou se acostumando a virar alvo das provocações do presidente americano.
Mesmo antes de assumir o cargo, Donald Trump criticou a Alemanha e Angela Merkel por sua política migratória, seu superávit e os gastos militares, que considerou insuficientes.
Além da Alemanha, o diálogo com a União Europeia registrou um forte declínio.
"A relação transatlântica é quase moribunda", disse à AFP Sudha David-Wilp, do centro de pesquisas German Marshall Fund of the United States.
"O presidente republicano mostra abertamente seu desdém pela UE. Nunca antes um presidente americano havia chamado a UE de adversário", observa a analista.
A sequência de tuítes, discursos e decisões que provocaram mal-estar na Europa é longa: críticas à Otan, retirada do acordo de Paris sobre o clima, denúncia do acordo sobre o programa nuclear iraniano, guerras comerciais com ameaças de tarifas para todos os lados, apoio ao Brexit...
Com Berlim, os pontos de discórdia não são apenas políticos. A sintonia entre Donald Trump e Angela Merkel nunca foi boa: a chanceler alemã é uma "mulher forte" que desconcerta o presidente americano, destaca Bruce Stokes, pesquisador associado do centro Chatham House.
A chanceler tampouco tentou buscar algum tipo de cumplicidade com Trump, ao contrário de outros governantes como o francês Emmanuel Macron, destaca a analista Sudha David-Wilp.
A desconfiança estabelecida entre Europa e Estados Unidos deixará sequelas, advertiram vários observadores.
Nunca a imagem dos Estados Unidos havia sido tão ruim, de acordo com uma pesquisa do instituto Pew Research Center: no Reino Unido, apesar da relação especial com os Estados Unidos, apenas 41% dos entrevistados - o menor número já registrado - têm uma opinião positiva dos Estados Unidos; Na França a proporção é 10 pontos menor e na Alemanha apenas 26% avaliam positivamente o país.
"As eleições presidenciais mostrarão se o "efeito Trump" em termos de política antiliberal e protecionista é um fenômeno passageiro ou uma tendência mais profunda na política americana", afirma um comunicado da Fundação Robert Schumann, com sede em Bruxelas.