Pyongyang usa o retorno de um desertor norte-coreano para culpar Seul pela presença do coronavírus em seu território, estimaram analistas nesta segunda-feira (27)
Pyongyang usa o retorno de um desertor norte-coreano para culpar Seul pela presença do coronavírus em seu território, estimaram analistas nesta segunda-feira (27).
O regime norte-coreano impôs um confinamento à cidade de Kaesong, perto da fronteira com o Sul, depois de anunciar que havia identificado um caso "suspeito" de COVID-19 em um desertor que retornou recentemente ao Norte atravessando a Zona Desmilitarizada (DMZ), informou a mídia norte-coreana neste fim de semana.
Por meses, o Norte sustentou que o coronavírus não havia se propagado em seu solo, embora a pandemia tenha surgido na vizinha China, seu principal apoio diplomático e econômico.
Uma afirmação questionada por especialistas, que acreditam que é provável que o coronavírus já estivesse presente na Coreia do Norte, mas que o regime procura culpar Seul, e não seu aliado chinês.
Nesta segunda-feira, autoridades sul-coreanas disseram que a pessoa suspeita de ser o desertor nunca foi diagnosticada como positivo para o coronavírus, nem identificada como tendo tido contato com casos confirmados.
Seul tem sido elogiado por sua resposta muito eficaz à epidemia, com uma estratégia de rastreamento muito agressiva. Mais de 1,5 milhão de testes foram realizados.
"A Coreia do Norte poderia tentar usar o retorno desse desertor para evitar a responsabilidade por uma epidemia que já existia", disse Rachel Lee, especialista em Coreia do Norte e ex-funcionária do governo dos EUA.
"Pode atacar a vigilância nas fronteiras sul-coreanas", comentou à AFP. "Pode até acusar a Coreia do Sul de enviar deliberadamente o desertor ao Norte para espalhar o vírus por lá".
Duyeon Kim, especialista em questões coreanas no International Crisis Group, acrescenta que ao culpar Seul, Pyongyang "agora pode legitimamente e abertamente aceitar ajuda do Sul".
O Norte "também pode enviar uma mensagem sobre os desertores apresentando-os ainda mais como inimigos do Estado", acrescentou no Twitter.
Pyongyang tem o hábito de difamar as pessoas que fugiram para o Sul e que enviam ao Norte panfletos de propaganda contra o regime norte-coreano. Essas ações contribuíram para tensionar ainda mais as relações inter-coreanas.
É extremamente raro que norte-coreanos que fugiram para o Sul retornem ao seu país de origem, onde correm o risco de represálias, segundo organizações de direitos humanos.
O ministério da Unificação da Coreia do Sul diz ter apenas 11 exemplos de norte-coreanos retornando ao Norte nos últimos cinco anos.
E é ainda mais raro que o façam através da Zona Desmilitarizada, que, ao contrário do que o nome sugere, é uma das áreas mais militarizadas do mundo, com campos minados, postos de guarda e arame farpado.