INTERNACIONAL

Publicidade enganosa e preconceito prejudicam amamentação na China

A falta de regulamentação, a publicidade agressiva de leite em pó, a ignorância médica, a curta licença-maternidade e os locais de trabalho hostis tornaram a China um dos países com os níveis mais reduzidos de amamentação materna

AFP
20/08/2020 às 08:36.
Atualizado em 25/03/2022 às 16:03

A falta de regulamentação, a publicidade agressiva de leite em pó, a ignorância médica, a curta licença-maternidade e os locais de trabalho hostis tornaram a China um dos países com os níveis mais reduzidos de amamentação materna.

Apenas um em cada cinco bebês no país é amamentado exclusivamente nos primeiros seis meses de vida, apesar da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS). Isto representa menos da metade da média global, de acordo com a lista do UNICEF de 2019, e bem abaixo da meta do governo de 50% das mães amamentarem seus filhos este ano.

As autoridades tentam promover o aleitamento materno criando espaços adequados em locais públicos como parques e estações de trem e ensinando a médicos e enfermeiras seus benefícios, mas especialistas e mães dizem que não é suficiente.

Mary Zhang parou de amamentar há um mês. Teve mastite, uma infecção dolorosa dos dutos de leite que pode causar febre, infecções e, em alguns casos, até hospitalização, mas os médicos lhe deram informações erradas para o tratamento.

"Nada funcionou. Sentia dor e o bebê chorava", lembra Zhang.

"Minha mãe começou a dar leite em pó para ele. Assim que o bebê se acostumou com a mamadeira, passou a recusar o peito", conta.

Apenas 12% dos bebês na China nascem em hospitais onde os funcionários têm conhecimento sobre amamentação, de acordo com o UNICEF.

Mas o maior desafio para a amamentação vem da propaganda incessante e enganosa do leite em pó, depois que o governo revogou o código de conduta da OMS que regulamentava este mercado.

As autoridades revogaram as diretrizes que restringiam a publicidade de substitutos do leite materno e que proibiam os assistentes sociais de promovê-los, embora marcas que vendem comida para bebês, como a Danone, ofereçam dinheiro aos médicos para promover seus produtos.

Fang Jin, secretário-geral da Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento da China, diz que o poderoso lobby pelos substitutos do leite materno está exercendo "pressão comercial brutal" no maior mercado do mundo.

"A propaganda do leite em pó infantil afirma que ele contém os mesmos nutrientes do leite materno, o que é uma mentira total", afirma.

Um terço do leite em pó infantil mundial é vendido na China, onde o setor movimentou 27 bilhões de dólares (22 bilhões de euros) em 2019 e deve crescer 18% - para cerca de 32 bilhões de dólares - até 2023, de acordo com o Euromonitor.

"Muitas mulheres trazem latas de leite em pó quando vêm para dar à luz. Elas temem não estar produzindo leite suficiente. É um mito propagado pelo lobby", explica Liu Hua, enfermeira do Hospital de Obstetrícia e Ginecologia de Pequim.

Mulheres grávidas raramente recebem informações sobre amamentação durante a gravidez e têm que recorrer a aplicativos ou sites - muitas vezes financiados por empresas de leite em pó - para obter conselhos, diz ela.

A estrutura patriarcal da China não ajuda, diz Liu, já que os maridos "raramente ajudam na alimentação" dos filhos ou em outras tarefas domésticas. As avós cuidam disso.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por