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Psicólogos atendem chineses, emocionalmente sobrecarregados por epidemia de coronavírus

O medo da infecção, a solidão da quarentena, ou a pressão dos médicos para salvar vidas são alguns dos muitos problemas em que os psicólogos trabalham na China, mergulhada na comoção causada pela epidemia do novo coronavírus

AFP
10/03/2020 às 09:39.
Atualizado em 07/04/2022 às 08:39

O medo da infecção, a solidão da quarentena, ou a pressão dos médicos para salvar vidas são alguns dos muitos problemas em que os psicólogos trabalham na China, mergulhada na comoção causada pela epidemia do novo coronavírus.

A escassez de profissionais qualificados aumenta o problema em um país onde 50 milhões de habitantes estão confinados na província de Hubei, no centro do país. Ponto de origem do vírus, muitos chineses desta região ainda estão sendo mantidos em quarentena em suas casas.

"Todos os dias, cerca de 20 pessoas ligam. Algumas pessoas viram seus entes queridos morrerem, devido à falta de medicamentos no início da epidemia, quando não havia leitos suficientes nos hospitais", explica Xu, psicólogo de um hospital de Wuhan.

Estudantes presos em casa, porque as escolas continuam fechadas, grávidas que têm medo por seus bebês, ou pais que devem enfrentar o problema do fechamento de creches e escolas também telefonam para essas linhas de assistência psicológica.

"Muitos telefonemas também vêm de pacientes nervosos, porque o tratamento não tem efeito sobre eles, ou de pessoas com medo de contágio", acrescenta Xu.

Em Wuhan, na província de Hubei, os primeiros casos foram detectados no final de 2019. A maioria das mortes e dos contágios também está concentrada na cidade e, portanto, a ajuda psicológica é mais necessária.

O novo coronavírus contaminou mais de 80.750 pessoas na China, das quais mais de 4.000 morreram.

O confinamento, ao qual milhares de chineses são forçados, também gera um sentimento de incerteza, tédio e solidão, sublinha Chee Ng, professor de psiquiatria da Universidade de Melbourne, na Austrália.

"Quanto mais longa a quarentena, mais repercussões ela tem na saúde mental", diz ele.

A China tem apenas 2,2 psiquiatras a cada 100.000 habitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). É um país onde a aceitação e o tratamento de problemas psicológicos ainda são limitados.

O Ministério da Saúde indicou que mais de 300 linhas telefônicas de assistência psicológica foram ativadas por universidades, autoridades locais, ou organizações especializadas.

Vários voluntários desses serviços em Pequim, ou em Xangai, disseram à AFP não terem recebido qualquer treinamento específico para lidar com uma crise dessa magnitude.

"E alguns deles afundam quando o turno termina", conta Ming Yue, psiquiatra estagiária nesta plataforma criada por uma universidade em Pequim.

"Eles estão chocados e tristes", acrescenta.

De Wuhan, Xu explica que acorda todas as manhãs e dedica alguns minutos à meditação antes de ir ao hospital para trabalhar.

"É minha maneira de ser forte. Caso contrário, a carga psicológica seria muito pesada", explica.

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