INTERNACIONAL

Primavera Árabe ou como o Ocidente perdeu um encontro com a História

"O Oriente Médio perdeu a oportunidade de dar os primeiros passos rumo à liberdade e à democracia. E o Ocidente optou por ser um interlocutor silencioso"

AFP
07/12/2020 às 08:30.
Atualizado em 24/03/2022 às 03:23

"O Oriente Médio perdeu a oportunidade de dar os primeiros passos rumo à liberdade e à democracia. E o Ocidente optou por ser um interlocutor silencioso". Estas são as palavras de um vencedor do Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei.

"Isto não ajudou a Primavera Árabe", destaca um dos principais nomes da oposição liberal egípcia, 10 anos depois das primeiras manifestações na Tunísia que provocaram um levante popular na região.

Depois da Tunísia, Egito, Iêmen, Líbia, Bahrein, Síria e Iêmen se viram presos em um redemoinho que mudou a face do Oriente Médio. Um terremoto que os países ocidentais não conseguiram prever.

Próximos a alguns regimes autoritários, que durante décadas foram considerados uma garantia de estabilidade e segurança, não conseguiram medir a dimensão dos acontecimentos. ElBaradei lamenta que não tenham apostado realmente nas esperanças democráticas.

"Sabíamos o que não queríamos, mas não tínhamos tempo para discutir como seria o dia seguinte", recorda. "Não tínhamos as ferramentas nem as instituições".

Muitas pessoas compartilham desta visão amarga dos acontecimentos que acabaram com alguns regimes, mas também com a ilusão de várias populações, que foram violentamente reprimidas, diante de países ocidentais indecisos, inconstantes e impotentes, de acordo com depoimentos exclusivos à AFP.

Não foi por falta de compromisso. Várias ONGs e órgãos para-governamentais tentaram apoiar as ambições democráticas.

Os autocratas, porém, denunciaram o que chamaram de manipulação. No fim de 2011, no Egito, 43 membros de ONGs locais e internacionais, incluindo 20 estrangeiros (a maioria americanos), foram acusados de interferir nos assuntos do país. Os estrangeiros foram expulsos e os demais, condenados.

Na Síria, após uma visita do embaixador dos Estados Unidos à cidade de Hama, então o epicentro dos protestos, Damasco afirmou que havia "provas da participação dos Estados Unidos nos acontecimentos" e de seu desejo de "aumentar" a tensão.

Outros países fizeram acusações similares. Mas o argumento não se sustenta, afirma Srdja Popovic, cofundador da ONG sérvia Canvas (Centro de Ações e Estratégias Aplicadas Não Violentas).

"Para ter êxito, estas batalhas devem vir de dentro", afirma, com base em 15 anos de experiência em países de todo o mundo que lutam pela democracia. "Não se pode importar uma maioria, nem pessoas para construí-la".

Stéphane Lacroix, pesquisador do Instituto de Estudos Políticos de Paris, também descarta a ideia de conspiração estrangeira. "Quem vê imperialismo em todos os lados não considera que os povos autônomos são capazes de se mobilizar porque não suportam mais. Esta é a história! Não é Washington que liga e afirma: "Agente 007, vá para a Praça Tahrir".

Ao mesmo tempo, existe uma unanimidade sobre a falta de visão e de coragem dos países ocidentais.

Nadim Houry, que dirige o centro de estudos Arab Reform Initiative, apresenta um quadro implacável. A Primavera Árabe "pegou de surpresa os ocidentais em 2011".

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por