Camargo é o primeiro da América Latina a ter sua trajetória acadêmica
"Quero continuar a fazer pesquisa no Brasil e para o Brasil. Almejo que os trabalhos tenham impactos internacionais, mas não quero deixar o País. Meu intuito é que os estudos tragam benefícios para toda sociedade", afirma o doutorando da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo), Adriano Costa de Camargo, de 37 anos de idade. Cientista de alimentos, ele é o primeiro da América Latina a ter sua trajetória acadêmica considerada de excelência pela Sociedade Internacional de Nutracêuticos e Alimentos Funcionais. A premiação ocorreu no último dia 11, em Orlando (Estados Unidos), durante conferência anual da entidade. Intitulado Fereidoon Shahidi Fellowship Award, em referência ao pesquisador que é listado entre os 10 mais influentes do mundo na área de ciências agrárias, a honraria nasceu em 2009. "Me inscrevi para apresentar um dos meus trabalhos que compõe o meu doutorado na conferência, que é específica sobre compostos nutracêuticos e alimentos funcionais. Fui convidado por membros da Sociedade para me candidatar ao prêmio", relembra Camargo. "Para isto, precisei enviar o meu currículo, todas as minhas publicações, que hoje somam 19 artigos e quatro capítulos de livros, meu histórico escolar, que também inclui a trajetória no Mestrado e no Doutorado, duas cartas de indicação e uma carta pessoal na qual disse quais foram as minhas contribuições à área e à sociedade", acrescenta. Aluno de escola pública até o Ensino Médio em Tatuí (cidade localizada a 78 quilômetros de Piracicaba), onde nasceu, Camargo graduou-se em Ciências dos Alimentos pela Esalq e também é mestre pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP). Realizou três estágios de doutorado sanduíche na Memorial University of Newfoundland, no Canadá, orientado pelo doutor Fereidoon Shahidi, por meio de bolsas do Ciência Sem Fronteiras e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Foi bolsista, durante o mestrado, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). "Foi uma surpresa receber esta premiação, afinal, isto é muito raro de acontecer. Até então, o reconhecimento havia ficado no eixo da América do Norte, Ásia e Europa. Inclusive, meus companheiros de trabalho da Esalq se surpreenderam com o resultado", revela o cientista. Hoje, ele defende pela Esalq o seu projeto de doutorado. E, após o fechamento de mais um ciclo, não pretende deixar a pesquisa. "Tenho enviado outros projetos na tentativa de conquistar financiamento e continuar nesta área. Não quero fazer parte da fuga dos cérebros, ação que é muito criticada. Mas ela é um reflexo da falta de financiamento no país", revela Camargo, que finaliza: "Apesar de nunca ter sofrido com a falta de incentivo, o fato ainda é um limitante na área científica local". Nos últimos seis anos, Camargo tem concentrado sua pesquisa nas áreas de segurança alimentar, conservação de alimentos, desenvolvimento de produtos e antioxidantes, além da identificação de compostos naturais com potencial para a prevenção do diabetes, obesidade, câncer e doenças cardiovasculares. Os resultados alcançados são referências na China, Coreia, Japão, Itália, Estados Unidos, Brasil e Canadá. ISNFF A conferência da ISNFF (International Society for Nutraceuticals and Functional Foods) ocorreu entre 9 e 12 de outubro, com a participação de especialistas reconhecidos na área de nutracêuticos e alimentos funcionais, de 30 países. O encontro, que é anual, visa a estreitar os laços entre academia, Indústria e organizações governamentais, empresas multinacionais, fornecedores, prestadores de serviços e editores.