Barbara Brix admirava o pai, um médico que lhe transmitiu o gosto pela história e pela literatura. Até que ela descobriu depois de sua morte que ele pertencia aos Einsatzgruppen, os algozes do "Holocausto por balas"
Barbara Brix admirava o pai, um médico que lhe transmitiu o gosto pela história e pela literatura. Até que ela descobriu depois de sua morte que ele pertencia aos Einsatzgruppen, os algozes do "Holocausto por balas".
"Conheci meu pai com seis anos de idade, quando ele voltou da guerra. Ele havia perdido as duas pernas", conta a gentil aposentada alemã de 79 anos à AFP.
"Ele me transmitiu seu amor pela história, pela literatura; ele lia Tolstoi, Dickens para mim... Era meio que meu mentor espiritual", relembra esta professora de História aposentada em seu pequeno apartamento em um bairro alternativo de Hamburgo.
A guerra, porém, era em sua casa um assunto tabu, do qual quase não se falava.
"Meu pai não falava sobre isso e eu nunca perguntei a ele, nem mesmo uma pergunta simples como "pai, onde você perdeu as pernas?"", lamenta Brix. "O silêncio vinha de ambos os lados, dos pais, mas também de nós", os filhos.
Durante anos, Brix acreditou que seu pai trabalhava apenas como médico, longe da Wehrmacht, o exército alemão. Foi depois da morte de seu admirado pai, em 1980, que seu passado veio à tona.
"Foi antes de eu me aposentar, em 2006", lembra Barbara Brix, com um nó na garganta. "Um amigo historiador, que estava pesquisando sobre o nazismo nos países bálticos, me disse "Bárbara, você sabia que seu pai era membro dos Einsatzgruppen"?".
"Não, eu não sabia e foi, é claro, um choque", diz ela.
Brix conhece apenas fragmentos da trajetória de seu pai. Peter Kröger, originário da minoria alemã na Letônia, ingressou em 1933, aos 21 anos, no partido nacional-socialista, fundado pelo tio de Brix, um nazista convicto.
Depois de completar seus estudos médicos, ele entrou na Waffen-SS e em junho de 1941, quando Adolf Hitler lançou a invasão da União Soviética, deixou sua esposa grávida sozinha para se unir à "frente russa".
Ao retornar da guerra, inválido após um grave ferimento sofrido na Normandia (França), o pai se reencontrou com sua família no oeste da Alemanha.
Os Julgamentos de Nuremberg, realizados exatamente 75 anos atrás, foram a manifestação mais emblemática da "desnazificação". Milhares de criminosos de guerra sentaram no banco dos réus, mas muitos outros foram deixados em paz em uma Alemanha onde a ameaça soviética de alguma forma ofuscou os crimes nazistas.
Kröger foi interrogado várias vezes na década de 1960 como testemunha, mas nunca foi acusado de nada, de acordo com Brix, que após descobrir o passado de seu pai não parou de se aprofundar em sua história.
Em pastas coloridas, organizou os documentos recolhidos ao longo dos anos sobre o Dr. Kröger: um certificado de membro da SS com o selo da águia e da suástica e um certificado de "desnazificação" que lhe permitiu continuar a exercer uma atividade profissional. Em uma foto, seu pai posa vestindo um uniforme preto da SS.