INTERNACIONAL

Pesquisadores estudam monitorar COVID-19 pela água do esgoto

As águas residuais podem servir para acompanhar a evolução da epidemia e desenvolver um sistema de alerta precoce, de acordo com pesquisadores de vários países que estudam a presença do novo coronavírus neste meio desde seu surgimento na China

AFP
24/04/2020 às 12:19.
Atualizado em 31/03/2022 às 01:47

As águas residuais podem servir para acompanhar a evolução da epidemia e desenvolver um sistema de alerta precoce, de acordo com pesquisadores de vários países que estudam a presença do novo coronavírus neste meio desde seu surgimento na China.

Em banheiros e esgotos, além de estações de tratamento de esgoto em cidades como Paris, Amsterdã e Brisbane, cientistas encontraram elementos do genoma do novo coronavírus nas fezes dos pacientes.

Esta descoberta "não representa nenhum risco" para a saúde, garantiu Luca Lucentini, diretor do Departamento de Qualidade da Água do Instituto Superior de Saúde da Itália, em um comunicado no qual anunciou várias amostras positivas em Roma e em Milão.

Não há qualquer risco nos países onde a água potável é submetida a tratamentos rígidos, afirmam os cientistas. O consenso é menor, porém, em relação a uma eventual contaminação pelas águas residuais lançadas no meio ambiente.

A exposição ao Sars-CoV-2, como se chama o vírus que causa a doença COVID-19, no esgoto "pode representar um risco à saúde", segundo um artigo publicado na revista médica The Lancet, por Willemijn Lodder e Ana María de Roda Husman, do Centro de Controle de Doenças Infecciosas na Holanda.

Este centro anunciou em março a detecção de material genético do vírus em águas residuais em Amsterdã.

Alguns especialistas destacam que a presença de vestígios do novo coronavírus nas fezes não significa necessariamente, porém, que seja transmissível por essa via. Outros lembram que ele não se reproduz na natureza sem um hóspede.

Além das questões de saúde, as águas residuais podem servir como "fonte de dados" para saber se o vírus circula entre a população humana, segundo Lodder e Roda Husman.

Isso pode permitir "acompanhar a evolução do vírus", afirma à AFP Vincent Maréchal, virologista da Universidade de Sorbonne, que participou de um estudo da agência municipal de água de Paris.

Com base em amostras coletadas entre 5 de março e 7 de abril, o relatório divulgado na semana passada - não-validado por outros cientistas - mostra que o "aumento das unidades do genoma" nas águas residuais "segue com precisão o aumento do número de mortos".

Maréchal defende, com isso, a "criação de uma rede nacional de vigilância de águas residuais, que poderia antecipar uma segunda onda" da epidemia.

Devido ao grande número de casos assintomáticos, ou com poucos sintomas, a presença do vírus pode ser detectada antes da confirmação dos primeiros casos clínicos em áreas onde a propagação da COVID-19 foi contida, ou pouco afetada até agora.

"Então poderíamos aplicar as medidas de barreira. Isso permitiria ganhar tempo, um elemento importante nesta epidemia", acrescentou Maréchal.

Este sistema de monitoramento ambiental já foi usado para outros vírus. Em um estudo publicado em 2018, um grupo de pesquisadores demostrou que a detecção do vírus da poliomelite nas águas residuais de Israel em 2013 havia permitido relançar uma campanha de vacinação, evitando os casos de crianças paralisadas.

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