INTERNACIONAL

Perda definitiva de olfato e paladar, a angústia de muitos que tiveram covid

De repente, três dias após o teste positivo para covid-19, "tudo tinha gosto de papelão". Elizabeth Medina, 38 anos, perdeu o paladar e o olfato

AFP
31/03/2021 às 16:44.
Atualizado em 22/03/2022 às 04:07

De repente, três dias após o teste positivo para covid-19, "tudo tinha gosto de papelão".

Elizabeth Medina, 38 anos, perdeu o paladar e o olfato. Foi em março de 2020, o início da pandemia. Um ano depois, ela está desesperada com a ideia de não recuperá-los.

Conselheira escolar em uma escola de ensino médio de Nova York, ela consultou otorrinolaringologistas, neurologistas e neurocirurgiões, tentou sprays nasais e faz parte de um grupo de pacientes que estão experimentando um tratamento com óleo de peixe.

Para estimular o olfato, ela coloca especiarias em todos os pratos, ervas aromáticas em seus chás e constantemente cheira uma pulseira com óleos essenciais. Tudo em vão.

Esta mãe de dois filhos afirma ter perdido muitos prazeres do dia a dia, como comer e cozinhar. E chora diariamente há meses.

Medina está entre o número crescente de pessoas com "anosmia" de longa duração, um distúrbio frequentemente subestimado que se tornou uma das marcas da pandemia.

Enquanto a maioria das pessoas que perdem o paladar e o olfato pelo coronavírus os recuperam de três a quatro semanas, "10% a 15%" os perdem por meses, diz Valentina Parma, psicóloga da Temple University na Filadélfia e membro de um consórcio internacional de pesquisadores, o Consórcio Global para Pesquisa Chemosensory (GCCR), que foi formado no início da pandemia para estudar este problema.

Por enquanto, essa consequência pode afetar pelo menos dois milhões de pessoas nos Estados Unidos e mais de 10 milhões em todo o mundo, explica.

O paladar e o olfato são frequentemente considerados menos essenciais do que a visão ou a audição.

Embora sejam essenciais para a socialização ("escolhemos parceiros em parte por causa de seus cheiros", enfatiza Parma), os médicos tendem a considerar sua perda menos séria do que outros efeitos da covid de longa duração.

No entanto, seu desaparecimento costuma ser acompanhado de problemas nutricionais, além de ansiedade e até depressão, afirma o médico.

Como outros que enfrentam a "anosmia", Medina acabou encontrando conforto e solidariedade em um grupo de apoio organizado por um hospital próximo à sua casa.

Grupos desse tipo se multiplicaram nas redes sociais: a associação AbScent - formada em 2019 no Reino Unido e cuja notoriedade disparou com a pandemia - viu o número de seus membros explodir em um ano de 1.500 para mais de 45.000 em suas diferentes plataformas, de acordo com sua fundadora, Chrissi Kelly.

Na página da associação no Facebook, a pergunta que assombra Medina se repete como um refrão: "Será que algum dia recuperarei meu paladar e meu olfato?"

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