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Pandemia impede que pais conheçam filhos gestados por substituição

Cherry Lin acaricia melancolicamente uma manta, temendo que seja pequena demais para a criança que ainda não conseguiu conhecer, fruto de gestação por substituição, vulgo barriga de aluguel, e por estar no exterior devido ao fechamento das fronteiras impostas pelo coronavírus

AFP
22/09/2020 às 09:25.
Atualizado em 24/03/2022 às 12:12

Cherry Lin acaricia melancolicamente uma manta, temendo que seja pequena demais para a criança que ainda não conseguiu conhecer, fruto de gestação por substituição, vulgo barriga de aluguel, e por estar no exterior devido ao fechamento das fronteiras impostas pelo coronavírus.

A China proibiu qualquer forma de gestação por substituição - tanto comercial quanto altruísta - em 2001, em meio a preocupações de que a prática pudesse gerar a exploração de mulheres pobres.

No entanto, por entre US$ 35.000 e US$ 75.000, os casais podem encontrar mulheres no exterior, do Laos à Rússia, passando pela Ucrânia, Geórgia e Estados Unidos, para gerar seu bebê.

O sistema foi fortemente afetado pela pandemia, que levou ao fechamento de fronteiras, ao cancelamento de voos e à suspensão de vistos, levando a um "acúmulo" de recém-nascidos à espera de serem recolhidos pelos pais biológicos chineses.

Além disso, a epidemia da covid-19 desencadeou um ressurgimento do mercado paralelo de mães de aluguel na China.

Bebês foram encontrados em orfanatos e apartamentos, de acordo com agências de gestação por substituição na Rússia e na Ucrânia.

"Não consigo dormir à noite pensando que meu bebê está preso em um orfanato", explicou Lin, que optou por esse método depois de sofrer vários abortos espontâneos, na cidade de Chengdu, no sul do país.

O bebê nasceu em São Petersburgo em junho, três meses depois do fechamento pela Rússia das fronteiras com a China para diminuir a disseminação do coronavírus.

"Não sabemos quanto tempo teremos de esperar", acrescenta.

O aumento da renda, os altos níveis de infertilidade e o desejo dos casais que, devido à idade, não conseguem mais procriar, fizeram com que a demanda por serviços de gestação por substituição no exterior disparasse na China a partir de 2016, quando deixou de vigorar a regra do filho único no país.

Lin, uma advogada de 38 anos, e seu marido viajaram para a Rússia no ano passado para a fertilização in vitro e para assinar um contrato com uma agência especializada em gestação por substituição.

Assim que a gravidez foi confirmada, Lin começou a comprar produtos infantis e até fez um curso de primeiros socorros para crianças.

Mas seus planos foram quebrados quando o coronavírus começou a se espalhar pelo planeta, mergulhando-a em um "pesadelo" em que recebe fragmentos das primeiras semanas de vida do recém-nascido, por meio de fotos e vídeos enviados pela agência.

Nem o ministério das Relações Exteriores da China nem a embaixada russa em Pequim responderam às perguntas da AFP sobre o que estavam fazendo para ajudar os pais chineses a trazerem seus filhos para casa.

Não há dados oficiais sobre quantos bebês gerados por substituição chineses estão atualmente no exterior. Mas um vídeo postado em junho pelo serviço ucraniano BioTexCom mostrava filas e filas de bebês em berços em um hotel, dando uma ideia da extensão do problema.

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