INTERNACIONAL

Pandemia evidencia falta crônica de água em terras navajos

Amanda Larson sobe seus três filhos a bordo de sua caminhonete para percorrer vários quilômetros de sua casa para encher galões de água, um recurso cuja falta na reserva indígena navajo ficou evidente devido à pandemia de COVID-19

AFP
01/06/2020 às 16:49.
Atualizado em 27/03/2022 às 21:56

Amanda Larson sobe seus três filhos a bordo de sua caminhonete para percorrer vários quilômetros de sua casa para encher galões de água, um recurso cuja falta na reserva indígena navajo ficou evidente devido à pandemia de COVID-19.

A mesma tarefa extenuante deve ser repetida a cada dois ou três dias. Toda a família deve cooperar para carregar na parte traseira do carro mais de 200 litros de água, usados para beber, lavar as roupas ou se limpar.

"É vergonhoso, degradante e comovente para meus filhos, que não podem simplesmente tomar um banho como todo mundo", confessa Larson à AFP, de volta à casa recém construída da família no povoado de Thoreau, Novo México.

"É assim que nos preparamos para a escola, ou para trabalhar com meu marido, nesses dois baldes" colocados no fundo da banheira, suspira esta mãe de 35 anos, professora de jardim de infância.

Na ausência de água corrente, 30 a 40% dos 178.000 habitantes da Nação Navajo não podem cumprir com a primeira recomendação de saúde diante do novo coronavírus: lavar as mãos regularmente.

Sem dúvida, essa é uma das razões pelas quais esse vasto território semiautônomo, a medio camino entre Arizona, Utah e Novo México, já soma quase 160 mortes (de 5.000 casos registrados), uma das taxas de mortalidade mais altas por habitantes do país.

Escritas por todos os lados ao longo da reserva, de extensão semelhante à Escócia, quatro palavras servem como um grito de guerra para os navajos: "A água é vida".

O recurso está se tornando cada vez mais escasso na área: segundo um relatório da ONG DigDeep, a água superficial diminuiu 98% durante o século XX devido ao aumento das temperaturas e à redução das chuvas.

George McGraw, que fundou a organização em 2012 para ajudar as comunidades na África Subsaariana antes de mirar os Estados Unidos, também aponta para a negligência crônica do governo federal.

"Grandes áreas deste país, predominantemente negras, mestiças, indígenas e rurais, ficaram de fora dos grandes investimentos federais em infraestrutura", disse.

E as comunidades indígenas são as mais afetadas entre os 2 milhões de americanos que até hoje vivem sem conexão com as redes de água e saneamento.

Os navajos assinaram um tratado em 1868 com o Estado federal que lhes prometia, em troca de sua redenção e uma grande parte de suas terras, garantir o acesso a necessidades básicas como educação e saúde.

Mas seu direito à água nunca foi quantificado em nenhum texto, e os povos indígenas, que preferem ser chamados "Diné", viram de longe centenas de barragens serem construídas, muitas vezes às suas custas, nos estados áridos do sudoeste.

Além da dificuldade para lavar as mãos, a escassez de água apresenta uma série de problemas.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por