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Pandemia acelera a digitalização do campo no Brasil

Um vídeo na internet para vender queijo branco, um drone para controlar ervas daninhas... A restrição a contatos pessoais motivada pela pandemia de COVID-19 tem levado muitos produtores agropecuários do Brasil a usar ferramentas digitais

AFP
29/07/2020 às 11:03.
Atualizado em 25/03/2022 às 17:46

Um vídeo na internet para vender queijo branco, um drone para controlar ervas daninhas... A restrição a contatos pessoais motivada pela pandemia de COVID-19 tem levado muitos produtores agropecuários do Brasil a usar ferramentas digitais.

Julio César Busato, à frente de um império agrícola de 40.000 hectares na Bahia, passava horas em estradas para percorrer suas propriedades ou se reunir com os membros da Associação de Produtores de Algodão do seu estado.

Nos últimos meses, ele descobriu as videoconferências e está decidido a manter esta prática, mesmo com o recuo da pandemia.

"Vamos continuar muitas reuniões com esse sistema, pois funciona muito bem e temos uma facilidade maior para conversar com os fornecedores de insumos", explicou à AFP.

Busato também começou a se interessar por ferramentas especialmente concebidas para trabalhos agrícolas.

"Para controlar a presença de pragas, eu utilizava fotos de satélites, mais caras e não muito precisas. Agora estou avaliando um aplicativo para identificar e mapear ervas daninhas que quero combater com drone para aplicar herbicida com mais precisão", detalha.

"As ferramentas digitais já estavam presentes e já existia sensibilidade para o uso delas, mas a pandemia atuou como acelerador", afirma Silvia Massruhá, diretora do departamento de Informática da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que oferece um sistema de gestão à distância de rebanhos de vacas leiteiras.

Para Marcelo Perreira de Carvalho, cofundador da plataforma de inovação agrícola AgTech Garage, "esse processo transcende à pandemia, mas o cenário trouxe mais abertura do setor do agronegócio para o novo".

Os pequenos agricultores também começaram a adotar estas práticas.

O empreendimento Elysios Agricultura Inteligente, lançado há cinco anos, desenvolveu um livro de registros digital, no qual o produtor anota cada etapa do trabalho e a evolução de seus cultivos. O registro pode ser consultado por sua cooperativa, os organismos de crédito e os assistentes técnicos.

"A adesão às novas tecnologias para otimizar a produção agora é mais vista como uma necessidade. Vimos um interesse crescente por nossas ferramentas, especialmente na questão da assistência porque o agrônomo tem acesso aos registros completos do produtor e pode auxiliá-lo à distância", explica Mario Apollo Brito, diretor comercial da Elysios, cujos 300 clientes produzem principalmente frutas e verduras.

As cooperativas, extremamente dependentes de programas de compras públicas que foram suspensos por causa da pandemia, também veem estas ferramentas de forma positiva para o manejo de sua produção.

"A rastreabilidade permite vender mais a partes do setor privado, cada vez mais exigentes em relação a isso", destaca Brito, que descarta qualquer recuo no processo de digitalização.

Essa também é a opinião de Robério Silva de Paiva, um pequeno agricultor de Sobradinho, perto de Brasília.

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