Força da cidade

Palestra de Macedo enfatiza poder da microeconomia

O economista Roberto Macedo (colunista do Estadão) esteve quinta-feira (9) no auditório da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi)

Romualdo Cruz Filho
11/02/2023 às 06:37.
Atualizado em 11/02/2023 às 06:37
Roberto Macedo: ‘O governo deveria investir na construção civil. É um setor que gera emprego, renda e resolve um grande problema social, que é a falta de moradias’ (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)

Roberto Macedo: ‘O governo deveria investir na construção civil. É um setor que gera emprego, renda e resolve um grande problema social, que é a falta de moradias’ (Mateus Medeiros/Gazeta de Piracicaba)

O economista Roberto Macedo (colunista do Estadão) esteve quinta-feira (9) no auditório da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi) para conversar com público interessado em compreender o cenário macroeconômico do país. Com ampla participação no mundo acadêmico e de governo ao longo de sua carreira, o ex-professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP tentou sintetizar os alunos e professores da Escola de Negócios e Faculdade do Comércio da Acipi a realidade dizendo que o país vive uma década de estagnação e sem projeto para superar esse obstáculo. "Estamos há 10 anos sem crescimento ou com crescimento pífio de 1,4% ao ano".

Segundo ele, há aspectos estruturais que fizeram o país empacar. O principal foi a ascenção do populismo. "Até a década de 1970, em pleno regime militar, o Brasil crescia em ritmo chinês, de 8,8% ao ano. Mas a partir dos anos 1980, perdeu o embalo". Coincidentemente, ele observa, é a década de forte êxodo urbano, de um forte empobrecimento das cidades brasileiras e de consolidação do PT como partido político, com uma visão arcaica sobre economia e formas de resolver problemas sociais. "Quando a CLT chega ao campo, torna-se mais difícil manter os trabalhadores ligados às lavouras, devido aos custos trabalhistas, com isso, ocorre um forte êxodo rural", explica.

Roberto Macedo entende que o inchaço das cidades levou à inversão de alguns indicadores econômicos chaves do governo. "O populismo se tornou uma consequência natural do processo e o partido que mais defendia políticas sociais era o PT. A porcentagem do PIB em investimentos assistencialistas disparou. Somado a isso houve um inchaço da máquina pública. Gastos com a previdência e funcionalismos deixaram margem muito apertada para se pensar em desenvolvimento econômico estrutural".

O economista inclui nesse caminho o nó político, uma vez que a classe política está sempre pensando em se manter no poder e pouco se atenta à realidade dos fatos. Com isso, ela se torna mais um gargalo para dar vazão a propostas que poderiam fortalecer uma economia liberal. "Economia liberal, como entendo, é aquela levada adiante por países que funcionam e são democraticamente fortes", disse.

O otimismo do palestrante está em uma área que ele mesmo disse ter pouca informação: a microeconômica, relacionada à dinâmica dos municípios. "Há a macroeconomia, do governo federal, que está paralisada. Mas há a microeconomia, que se desenvolve nas cidades. Cada cidade tem as suas especificidades e desenvoltura para enfrentar os problemas macros. Muitas estão se saindo muito bem, não se deixando contaminar pelas notícias ruins que vêm de Brasília".

Ele vê na proposta do secretário de economia do Estado de São Paulo, Jorge Lima, de cidades inteligentes, uma saída que merece atenção. "Vocês precisam ouvir este homem e compreender melhor a sua proposta, porque está relacionada a um parâmetro fundamental da economia, que é economizar. Se a cidade é inteligente, é porque ela economiza, poupa, e não gasta o que não precisa ser gasto. Com isso, se fortalece".

Uma frente que ele apontou e que também pode contribuir para o desenvolvimento econômico diante de tantos problemas, é o habitacional. "O governo deveria investir na construção civil. É um setor que gera emprego, renda e resolve um grande problema social, que é a falta de moradias. Ele tocou também no embate sobre a autonomia do Banco Central. "Sou a favor de um banco independente. Mas que também precisa dar satisfação sobre o que está fazendo à sociedade. Porque de fato o impacto do juro é muito elevado e tem grande potencial para manter a estagnação, se sua lógica não for bem compreendida".

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