INTERNACIONAL

Países do Golfo, as novas potências surgidas da Primavera Árabe

O declínio dos regimes autoritários, que se seguiu à explosão da Primavera Árabe, fez estremecer os países do Golfo

AFP
07/12/2020 às 08:41.
Atualizado em 24/03/2022 às 03:23

O declínio dos regimes autoritários, que se seguiu à explosão da Primavera Árabe, fez estremecer os países do Golfo. Mas dez anos depois da fragilização dos seus vizinhos, as monarquias da península se tornaram o centro de gravidade do Oriente Médio.

"A fragilização dos centros de poder tradicionais [...] transformou o Golfo pela primeira vez na história moderna no centro do poder árabe", observa Bader Al Saif, professor adjunto de história na Universidade do Kuwait.

Em 2011, a tsunami revolucionária que arrasou a região desestabilizou as antigas elites, consideradas corruptas, repressivas e incompetentes. Na Tunísia e no Egito, as manifestações derrubaram os regimes autoritários dos presidentes Zine el Abidine Ben Ali e Hosni Mubarak, respectivamente e na Síria, na Líbia e no Iêmen, degeneraram em guerras civis.

Outrora faróis culturais e promotores do pan-arabismo triunfante, o Egito hoje só é notícia pelas violações dos direitos humanos e pela pobreza, e a Síria e o Iraque, pelo caos que os destrói.

Este cenário de desolação contrasta com a prosperidade do Catar ou dos Emirados Árabes Unidos, onde a comodidade dos imponentes arranha-céus atrai milhões de expatriados.

O movimento também sacudiu o Golfo. Mas os sobressaltos revolucionários em Omã, e sobretudo no Bahrein, foram cortados pela raiz, com a intervenção armada em Manama do grande irmão saudita.

A Primavera Árabe "abriu os olhos" dos países do Golfo, parceiros próximos de Washington, e testemunharam a inação dos Estados Unidos, enquanto os regimes de Egito e Bahrein eram ameaçados.

"Perceberam que tinham que se encarregar da situação e que os Estados Unidos não ofereciam garantias de segurança perpétuas", continua Al Saif.

Este foi um ponto de inflexão, embora os países do Golfo tivessem preparado sua ascensão muito antes de 2011, afirmam especialistas.

"A Primavera Árabe não iniciou esta tendência, a acelerou e lhe deu destaque", em particular nos Emirados e no Catar, analisa Abdelkhakeq Abdallah, professor de ciência política emiradense.

A Arábia Saudita já era um peso-pesado, como primeiro exportador mundial de petróleo e sede dos locais mais sagrados do islã.

Mas Doha "usou a Primavera Árabe em benefício próprio", "participando" da cobertura dos acontecimentos com sua emissora noticiosa, Al Jazeera, e com o êxito temporário de partidos islamitas, principalmente na Tunísia e no Egito, avalia Abdallah.

Os Emirados, por sua vez, aproveitaram para se apresentar como "um refúgio de segurança", atraindo investidores, em particular a Dubai, um dos sete principados do país, que tentava se recuperar da crise econômica de 2010.

Dez anos depois, em um Oriente Médio minado por conflitos e empobrecimento, a Arábia Saudita dirige o G20, o Catar se prepara para sediar a próxima Copa do Mundo de futebol e os Emirados enviam astronautas ao espaço.

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