INTERNACIONAL

Organizações temem tragédia migratória no Mediterrâneo

O Mediterrâneo atravessa uma "tragédia" sem testemunhas, ofuscada pelo coronavírus, com cada vez mais migrantes que tentam entrar numa Europa que fecha seus portos e sem navios humanitários para resgatá-los, denunciam organizações internacionais e ONGs

AFP
15/05/2020 às 11:26.
Atualizado em 30/03/2022 às 01:00

O Mediterrâneo atravessa uma "tragédia" sem testemunhas, ofuscada pelo coronavírus, com cada vez mais migrantes que tentam entrar numa Europa que fecha seus portos e sem navios humanitários para resgatá-los, denunciam organizações internacionais e ONGs.

Quando a Europa se tornou o epicentro global da pandemia, apenas dois navios de resgate continuaram suas operações, mesmo depois que a Itália e Malta fecharam seus portos devido ao coronavírus no início de abril: o "Alan Kurdi" da ONG alemã Sea-Eye e o "Aita Mari", fretado por uma ONG basca.

Nas últimas semanas, houve poucos desembarques de migrantes, como alguns dias atrás, quando 79 pessoas atracaram na Itália, onde a questão migratória é delicada.

Na vizinha Malta, o primeiro-ministro Robert Abela está sob investigação após a morte de migrantes no mar. O Exército e as autoridades são acusados de não os terem ajudado.

Mas desde a semana passada, todas as operações de resgate foram interrompidas.

A guarda costeira italiana imobilizou O "Alan Kurdi" e o "Aita Mari" devido a problemas "técnicos". As ONGs denunciam uma manobra injustificada para "interromper suas missões de primeiros socorros".

"Se não houver resgate no mar e os países enrolarem para socorrer e desembarcar as pessoas, acabaremos com situações humanitárias bastante sérias", lamentou Vincent Cochetel, enviado especial para o Mediterrâneo central da Agência de Refugiados da ONU, que estima que o número de mortes na região desde janeiro seja de 179.

Uma situação particularmente delicada porque as partidas da costa da Líbia aumentaram 290%, ou seja, 6.629 tentativas entre janeiro e o final de abril, em comparação com o mesmo período do ano passado, e 156% da Tunísia, detalhou Cochetel.

"A existência ou não de navios no mar não influencia de maneira alguma as partidas; este período de coronavírus demonstrou isso para nós", apontou.

"Cerca de 75% dos migrantes na Líbia perdeu o emprego desde as medidas de confinamento, o que pode causar desespero", acrescentou.

Duas imobilizações de navios, "uma após a outra, levantam questões sobre o porquê", denunciou Sophie Beau, diretora-geral da SOS Mediterranean, uma ONG francesa que fretou o "Ocean Viking", um navio humanitário que, segundo ela, retornará ao mar "o mais rápido possível", apesar da "criminalização" das ONGs.

"É realmente dramático (...) e contradiz o direito marítimo internacional que insta o socorro a qualquer pessoa em perigo o mais rápido possível. Agora, como não há testemunhas, não sabemos a extensão da possível tragédia que está ocorrendo" no Mediterrâneo, protestou.

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