INTERNACIONAL

ONU condena repressão em Mianmar; China pede 'desescalada e diálogo'

A China acredita que "é hora de uma desescalada" em Mianmar e de dialogar, declarou o embaixador chinês na ONU, depois que o Conselho de Segurança aprovou, pela primeira vez, uma declaração condenando a junta militar birmanesa, ao mesmo tempo que centenas de policiais e soldados lançaram uma operação em Yangon contra ferroviários em greve

AFP
10/03/2021 às 23:11.
Atualizado em 22/03/2022 às 09:20

A China acredita que "é hora de uma desescalada" em Mianmar e de dialogar, declarou o embaixador chinês na ONU, depois que o Conselho de Segurança aprovou, pela primeira vez, uma declaração condenando a junta militar birmanesa, ao mesmo tempo que centenas de policiais e soldados lançaram uma operação em Yangon contra ferroviários em greve.

"É hora da diplomacia", assinalou Zhang Jun em comunicado, informando que a China participou "de forma construtiva" da negociação de seis horas da declaração redigida pelo Reino Unido. Aprovado pelos 15 membros, o documento critica os militares de forma inédita e pede aos mesmos "mais moderação", embora não use a palavra golpe nem mencione possíveis sanções.

O Conselho de Segurança, que "condena firmemente a violência contra manifestantes pacíficos, entre eles mulheres, jovens e crianças", pede às partes que busquem uma solução pacífica, diz o texto, ao qual a AFP teve acesso. O documento também pede "a libertação imediata de todos que foram presos arbitrariamente" desde 1º de fevereiro, quando os generais derrubaram o governo civil de Aung Suu Kyi.

Os Estados Unidos, contudo, anunciaram pouco depois o congelamento em território americano dos ativos dos dois filhos do chefe da junta militar de Mianmar, Min Aung Hlaing, "em resposta ao golpe" e "a matança brutal de manifestantes pacíficos".

A Anistia Internacional denunciou "execuções extrajudiciais" e o uso de armas de guerra contra manifestantes pró-democracia. A organização afirma ter analisado 55 vídeos gravados entre fevereiro e março por civis e a imprensa local, os quais mostram que o Exército birmanês usa "a força letal de forma planejada, premeditada e coordenada".

Aproveitando a divisão até então na comunidade internacional, que enfrentou vetos de Moscou e Pequim, tradicionais aliados da junta militar, os generais mantiveram a repressão. Centenas de policiais e veículos militares foram mobilizados ao redor da área de moradia dos funcionários da estação Ma Hlwa Gone, na zona leste da capital econômica do país.

"Bloqueiam as portas (dos apartamentos) e as destroem para entrar", contou à AFP a familiar de um funcionário, que pediu anonimato por temer represálias. De acordo com a mulher, que expressou sua preocupação "pelos trabalhadores" e suas famílias, cerca de 800 funcionários participam do movimento de desobediência civil nesta estação.

Médicos, professores, funcionários de empresas de energia elétrica e das ferrovias pararam de trabalhar desde o golpe de Estado. Os principais sindicatos convocaram a "paralisação total da economia" para tentar interromper as atividades no país e aumentar a pressão sobre os militares. A junta ordenou que o retorno dos funcionários ao trabalho em 8 de março e ameaçou os grevistas de demissão e represálias.

Desde o golpe de Estado, o país é cenário de protestos diários. Na quarta-feira, uma forte presença policial e militar foi visível em Yangon, onde barricadas improvisadas foram incendiadas por manifestantes.

No bairro de Okkalapa, foram feitas "centenas de detenções", segundo um salva-vidas. "Alguns manifestantes foram espancados, há feridos", acrescentou.

"Pedimos às forças de segurança que se retirem da área, libertem os detidos e permitam que as pessoas saiam com segurança", tuitou a embaixada dos Estados Unidos, relatando que jovens foram cercados naquela área de Yangon.

A junta parece mais determinada do que nunca a impor o regime, com operações em edifícios residenciais, hospitais, universidades, detenções em larga escala e o uso de munição letal.

Ao menos 60 civis morreram e quase 2.000 pessoas foram detidas desde fevereiro, segundo a Associação para a Assistência aos Presos Políticos.

Os militares também executaram operações contra meios de comunicação independentes e revogaram as licenças de operação. Quase 20 jornalistas foram detidos.

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