INTERNACIONAL

O mundo por vir: escritora Isabel Allende espera que pandemia marque o fim do patriarcado

A escritora chilena Isabel Allende diz que a pandemia expõe as desigualdades que continuarão provocando protestos em massa nos Estados Unidos e no mundo, e que caberá aos jovens trabalhar por uma nova normalidade na qual homens e mulheres compartilhem a gestão do planeta

AFP
08/06/2020 às 13:06.
Atualizado em 27/03/2022 às 21:22

A escritora chilena Isabel Allende diz que a pandemia expõe as desigualdades que continuarão provocando protestos em massa nos Estados Unidos e no mundo, e que caberá aos jovens trabalhar por uma nova normalidade na qual homens e mulheres compartilhem a gestão do planeta.

A autora de "A Casa dos Espíritos", que publicará em novembro um livro de não-ficção sobre feminismo intitulado "O que nós mulheres queremos", é uma escritora disciplinada com uma tradição conhecida: todo 8 de janeiro se senta para escrever um novo texto.

Este ano não foi diferente, mas a pandemia significou um desafio.

Em uma videoconferência com a AFP em seu confinamento próximo a São Francisco, na Califórnia, a escritora de 77 anos falou de seu processo de escrita, sua visão de um mundo pós-pandemia e sua interpretação dos protestos nos Estados Unidos.

P: Como a pandemia interrompeu sua rotina?

R: A pandemia, o confinamento, o medo do vírus e todos os protestos que estão acontecendo deixam as pessoas bloqueadas. Não é fácil. Acontece comigo, mas sou muito disciplinada. Metade do trabalho é aparecer no computador na mesma hora. Olha, é possível que o faça num dia e não sirva para nada. Mas não importa. É assim que os livros são feitos. Pouco a pouco e com paciência.

P: A pandemia está influenciando sua obra?

R: A pandemia vai produzir uma onda, uma avalanche, de novas interpretações da realidade. Não apenas na arte, mas na filosofia, na história, em tudo. Tudo vai ser reinterpretado.

Mas no meu caso, preciso de tempo e distância para ver as coisas. Poderia ter escrito "A Casa dos Espíritos" depois do golpe militar no Chile em 1973. Demorei mais de oito anos para escrevê-lo, porque precisava desse tempo para digerir o que havia acontecido e poder ver de longe, com ironia. E acredito que vou passar o mesmo com isso.

P: Descobriu algo graças ao confinamento?

R: O que a pandemia me ensinou é a soltar coisas, a me dar conta do pouco que preciso. Não preciso comprar, não preciso de mais roupas, não preciso ir a lugar nenhum, viajar. Me parece que tenho demais. Vejo ao meu redor e me pergunto para quê tudo isso. Para quê preciso de mais de dois pratos?

Depois, me dar conta de quem são os verdadeiros amigos e as pessoas com quem quero estar.

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