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O florescente negócio dos aplicativos sobre ciclo menstrual

Intensidade de sangramento, dor, emoções, libido. Marion, de 26 anos, é uma das milhões de mulheres em todo mundo que usam um aplicativo de monitoramento do ciclo menstrual, um mercado em expansão que levanta muitas questões, principalmente sobre a proteção da privacidade

AFP
13/10/2020 às 09:26.
Atualizado em 24/03/2022 às 10:47

Intensidade de sangramento, dor, emoções, libido. Marion, de 26 anos, é uma das milhões de mulheres em todo mundo que usam um aplicativo de monitoramento do ciclo menstrual, um mercado em expansão que levanta muitas questões, principalmente sobre a proteção da privacidade.

"Se estou de baixo-astral, ou com grande sensibilidade, abro (o aplicativo) e vejo rapidamente se é por causa do meu ciclo", explica Marion.

O "MenstruTech" é o nome que a jornalista francesa Lucie Ronfaut deu a este ramo do mais amplo "FemTech", o mercado de serviços tecnológicos ligados à saúde da mulher que pode gerar 50 bilhões de dólares em 2025, de acordo com a agência Frost & Sullivan.

Algo que investidores como Max Levchin, um dos cofundadores do PayPal, que lançou o aplicativo Glow, não esqueceram.

Quando a Apple lançou seu aplicativo Health em 2014, nenhum rastreamento de ciclo menstrual estava previsto. Foi integrado um ano depois. E, desde então, os aplicativos floresceram.

Alguns propõem, principalmente, um calendário. Outros registram a temperatura, ou observações fisiológicas, como secreções vaginais.

A identidade visual varia, ora mais rosa, ora mais sóbrio. Assim como os modelos econômicos, que vão desde a assinatura até a monetização dos dados coletados em condições mais ou menos transparentes, e que respondem à conhecida máxima do mundo digital: "Se é grátis, o produto é você".

Clue, uma start-up berlinense lançada em 2013, reivindica uma abordagem ética: um aplicativo de base gratuita com modelo pago. Em vez de vender os dados para anunciantes, propõe a colaboração com universidades.

Este aplicativo diz ter mais de 12 milhões de usuárias, que "tendem a valorizar a imagem científica do aplicativo", explica Marion Coville, socióloga e professora do IAE de Poitiers, no oeste da França.

Mas "há riscos de que a pesquisa (que possibilita esses dados) se concentre em mulheres entre 18 e 35 anos, oriundas principalmente de países economicamente desenvolvidos", perfil médio das usuárias desses aplicativos.

Agathe Fontenelle, de 22 anos, estudante de direito da saúde em Montpellier (sul da França), usa o aplicativo de saúde da Apple. "Alguém saber que vou ficar menstruada, não me incomoda", garante.

"Mas eu não vou colocar minha atividade sexual, ou minha vontade de ter um filho (...), é muito intrusivo", pondera.

Outros aplicativos afirmam ajudar a procriar, ou a controlar a fertilidade, causando ceticismo nos profissionais de saúde.

A Agência Sueca de Medicamentos, alertada por usuárias chocadas com o aplicativo "Natural Cycles", exigiu que "o risco de gravidez indesejada seja mais bem especificado nas instruções de uso".

Um estudo de 2018 elaborado por médicos alemães sobre 12 aplicativos que prometiam ajudar a engravidar estima que a grande maioria não é "confiável".

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