INTERNACIONAL

O doloroso êxodo dos médicos libaneses

Há dois anos, Nour al-Jalbout voltava ao Líbano para continuar sua carreira. Hoje, essa médica se prepara para partir para os Estados Unidos, fugindo - como centenas de colegas - de um país em colapso

AFP
24/03/2021 às 17:11.
Atualizado em 22/03/2022 às 04:45

Há dois anos, Nour al-Jalbout voltava ao Líbano para continuar sua carreira. Hoje, essa médica se prepara para partir para os Estados Unidos, fugindo - como centenas de colegas - de um país em colapso.

"Minha família está aqui, eu queria servir a comunidade. Dei tudo para o Líbano, mas não recebi nada em troca", desabafa a jovem, entre duas intervenções no pronto-socorro do prestigioso hospital da universidade americana de Beirute (AUB).

Partir é uma decisão "que devora você por dentro todos os dias", diz ela. "Mas é a melhor coisa a fazer", acrescenta.

Com o jaleco ainda manchado de sangue de um paciente ferido a bala, ela examina o raio X de outro paciente, vindo de outro país da região.

Até pouco tempo atrás, o Líbano era apelidado de "o hospital do mundo árabe", por seus serviços médicos no setor privado e por seus médicos formados na Europa e nos Estados Unidos.

Com o bloqueio político e o colapso econômico, o setor da saúde enfrenta uma fuga de cérebros.

Com três máscaras cirúrgicas no rosto, Jalbout diz que enviou um pedido de imigração para os Estados Unidos, onde uma vaga em Harvard a aguarda.

Depois de um ano infernal, ela não se sente mais segura em um país instável. "Amo Beirute, mas é como ópio: é viciante, mas é tóxico", confessa.

Com lágrimas nos olhos, lembra dos feridos que chegaram em massa na tarde de 4 de agosto, quando toneladas de nitrato de amônio explodiram no porto de Beirute. Ela então recebeu um telefonema de seu marido, que lhe disse que seu apartamento havia sido destruído.

A tragédia deixou mais de 200 mortos.

Com o colapso da libra libanesa, nem mesmo as classes mais privilegiadas foram poupadas.

Convertidos em dólares, os salários dos médicos não valem nada. Os bancos fazem de suas poupanças reféns, pois impõem restrições drásticas aos clientes.

Nesse contexto, apesar dos meios limitados e da escassez, o setor médico teve de enfrentar uma explosão de casos de coronavírus no início do ano, com estabelecimentos saturados.

Para este país em crise, não há sinais de melhora à vista: a classe política, acusada de corrupção e de incompetência, está emaranhada há mais de sete meses na formação de um novo governo.

Fugindo do caos generalizado, cerca de mil médicos - ou seja, 20% do contingente - deixaram o Líbano desde 2019, afirma o presidente de seu sindicato, Charaf Abou Charaf.

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