Os países pobres terão acesso a uma vacina contra a covid-19? Esta pergunta ganhou força depois do anúncio, esta semana, por parte do gigante americano Pfizer e de seu sócio alemão, sobre uma vacina 90% eficaz
Os países pobres terão acesso a uma vacina contra a covid-19? Esta pergunta ganhou força depois do anúncio, esta semana, por parte do gigante americano Pfizer e de seu sócio alemão, sobre uma vacina 90% eficaz.
O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, defendeu na sexta-feira (14) que qualquer "avanço científico" deve beneficiar todos os países.
"Não há dúvida de que uma vacina será um instrumento essencial para controlar a pandemia", lembrou.
Mas, enquanto os países ricos já planejam suas campanhas de vacinação até o final de 2021, especialistas alertam sobre os obstáculos que esperam os países pobres.
A Pfizer e a BioNTech esperam distribuir as primeiras doses dentro de várias semanas, depois que tiverem recebido as autorizações de emergência por parte das agências sanitárias. Ambas as empresas esperam produzir até 1,3 bilhão de doses no próximo ano.
O tratamento consiste em duas doses e custa US$ 40. Os países ricos se apressaram em comprar milhões de doses antes mesmo que a eficácia da vacina fosse confirmada. Mas e as nações com menos recursos?
"Se tivermos apenas a vacina da Pfizer, e todo mundo precisar de duas doses, estaremos claramente diante de um dilema ético", disse à AFP a diretora da Global Health Network da Universidade de Oxford, Trudie Lang.
Hoje, existem mais de três dezenas de vacinas em desenvolvimento. Destas, 11 se encontram na fase 3, a última antes de solicitar uma homologação às autoridades competentes.
A OMS criou a iniciativa Covax para garantir uma distribuição equitativa. Reúne governos, cientistas, sociedade civil e setor privado. A Pfizer não faz parte dela, mas "expressou interesse em um eventual suprimento", disse um porta-voz da empresa farmacêutica à AFP.
Para Rachel Silverman, do Centro de Desenvolvimento Global, é pouco provável que grande parte do primeiro lote de vacinas chegue aos países mais pobres.
Com base nos acordos de compra antecipada com a Pfizer, Silverman estima que US$ 1,1 bilhão já foi comprado por países ricos.
"Não sobra grande coisa para o resto", afirma.
Alguns países, como Japão e Reino Unido, fazem parte da Covax, sendo possível que pelo menos algumas doses cheguem aos países menos desenvolvidos por meio de seus acordos de compra.
Já os Estados Unidos, que encomendaram 600 milhões de doses, não são membro dessa iniciativa, embora isso possa mudar com o presidente recém-eleito, o democrata Joe Biden.
"Devemos evitar que os países ricos absorvam todas as vacinas e que não haja doses suficientes para os mais pobres", defende o coordenador da vacina de covid-19 do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Benjamin Schreiber.