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O coronavírus, um novo golpe para as precárias prisões brasileiras

As precárias e superlotadas prisões brasileiras agora têm um agravante: a pandemia do novo coronavírus, que dificultou a ação dos serviços de saúde e deixou os presos mais isolados do que nunca dos seus familiares

AFP
21/08/2020 às 10:25.
Atualizado em 25/03/2022 às 15:56

As precárias e superlotadas prisões brasileiras agora têm um agravante: a pandemia do novo coronavírus, que dificultou a ação dos serviços de saúde e deixou os presos mais isolados do que nunca dos seus familiares.

"Tenho medo de perder meu marido dentro do sistema (carcerário) porque desde sempre eles não têm um atendimento adequado, só que agora a preocupação é maior porque a gente está lidando com um inimigo invisível", disse à AFP Mônica (nome fictício), cujo marido está preso há quatro anos no estado de São Paulo.

Desde que foi detectado o primeiro caso da COVID-19 em um presídio no Rio de Janeiro, em abril, o vírus se alastrou rapidamente entre os mais de 748.000 presos no país - a terceira maior população carcerária no mundo.

As visitas e os transportes, por sua vez, tinham sido suspensos no final de março.

A superpopulação carcerária - que chega a 300%, em celas com péssima ventilação e iluminação - soma-se ao racionamento de água e a uma alimentação precária. Condições que tornam quase impossível evitar a propagação e contaminação pelo vírus.

"A saúde já era um problema grande antes da pandemia. Com a COVID-19 agora a gente nem sabe o que vai acontecer", explica à AFP a especialista em Saúde Pública e Sanitarista Alexandra Sánchez, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Mais de 17.300 presos estão infectados (2,3% do total de detentos) e quase cem morreram em decorrência do novo coronavírus, segundo o Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Mas há subnotificação no número de casos, assim como em todo o país, o segundo mais afetado pela pandemia no mundo, com registro de mais de 112 mil mortes e 3,5 milhões de casos declarados.

Nas prisões, apenas 7,8% dos presos foram testados.

"Não se conhece a real situação", ressalta Sánchez.

Sol (nome fictício) está preocupada com o filho de 29 anos, preso por tráfico de drogas e que divide a cela com 42 pessoas na mesma penitenciária onde está o marido de Mônica.

"Mãe, estou doente, tem vários presos com dores no corpo e não há atendimento na enfermaria", disse-lhe o filho em uma das poucas cartas que recebeu desde abril.

Segundo levantamento recente, 38% dos 2.095 presidiários da penitenciária de Sorocaba II, em São Paulo, testaram positivos para o vírus.

"Essa taxa é altíssima, mostra a intensidade da circulação do vírus nessa unidade prisional. É impressionante", afirma Sánchez, lembrando que o número supera o registrado nas favelas do Rio, onde há maior prevalência da doença, que é de 25%.

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