INTERNACIONAL

O confinamento abre a porta para os vícios

"Outra "videocopa" com os amigos e vou me tornar um alcoólatra!"; "Com o trabalho remoto, posso acender um cigarro a cada momento de estresse"

AFP
26/03/2020 às 11:50.
Atualizado em 31/03/2022 às 06:20

"Outra "videocopa" com os amigos e vou me tornar um alcoólatra!"; "Com o trabalho remoto, posso acender um cigarro a cada momento de estresse"... Os depoimentos sobre as tentações viciantes durante o confinamento se multiplicam nas redes sociais, enquanto especialistas alertam para seus riscos.

"A relação entre as situações de estresse traumático e o consumo está bem estabelecida. Respondemos com os produtos de sempre: analgésicos, álcool, drogas recreativas", explica Philippe Batel, psiquiatra francês e especialista em vícios.

"Em situação de confinamento, a maioria das estratégias de adaptação ao estresse, como o esporte ou as saídas, não ocorrem. Mas há cada vez mais estresse. E a estratégia de adaptação que permanece disponível é o uso dessas substâncias", explica Elsa Taschini, psicóloga especialista.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselha: "Não procure canalizar suas emoções fumando, bebendo álcool ou consumindo produtos entorpecentes", destaca em suas recomendações para "enfrentar o estresse" durante a pandemia.

No entanto, em países como Espanha e França as tabacarias estão autorizadas a permanecer abertas e no país francês, depois de um momento de dúvida, as lojas de bebidas mantiveram sua atividade.

Para os fumantes, dependentes de nicotina, o desafio é ainda maior.

"Quando você está trancado, não é hora de se privar", afirma o médico Bertrand Dautzenberg, secretário-geral da Aliança francesa contra o Tabaco. "O melhor é substituir com adesivos, substitutos ou cigarro eletrônico. Mas também podemos pensar: "É um momento complicado, o que posso fazer que seja positivo? Deixar de fumar"".

"Tem que se controlar o desejo", aponta Nathalie Latour, delegada geral da Federação da Dependência. "Perguntar a si mesmo, "posso encontrar outra coisa?"", e não somente para o caso do tabaco, explica.

"Estamos vendo a multiplicação das "e-copas", devido a uma necessidade da juventude, de descompressão, que está associada ao consumo de álcool", afirma esta especialista. "Há de se evitar cair no ato do reflexo: jovialidade igual a álcool, estresse igual a álcool".

Quanto mais tempo durar o confinamento, maiores podem ser os efeitos negativos, segundo Batel.

"O consumo responde a uma expectativa: acreditamos que isso vai nos apaziguar, que nos permitirá manter as coisas em perspectiva. Mas esse efeito é cada vez menos palpável e o benefício esperado tem mais para o lado oposto", ou seja, para o caráter depressivo e ansioso causado pelo (excesso de) consumo de álcool, afirma.

Para Elsa Taschini, existe um inconsciente coletivo sobre esses perigos, como demonstra a multiplicação de vídeos humorísticos sobre os excessos do confinamento. "Se fazemos tantas piadas, é porque no fundo sabemos que não é uma piada".

Esta especialista recomenda uma análise pessoal sobre o peso desses "moderadores de estresse" em relação a outras atividades pacíficas e possíveis durante o confinamento: filmes, leitura, sem esquecer da sexualidade.

E sobre o uso de drogas recreativas, a questão também reside em seu abastecimento, em momentos em que os deslocamentos estão fortemente restritos.

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