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O azar e a seleção natural, fatores chave para as variantes do novo coronavírus

Os vírus não pensam, mas podem se adaptar ao ambiente para sobreviver, e essa capacidade pode explicar o preocupante surgimento recente de várias variantes muito mais contagiosas do vírus da covid-19

AFP
23/01/2021 às 14:44.
Atualizado em 23/03/2022 às 21:16

Os vírus não pensam, mas podem se adaptar ao ambiente para sobreviver, e essa capacidade pode explicar o preocupante surgimento recente de várias variantes muito mais contagiosas do vírus da covid-19.

Como todos os vírus, o SARS-CoV-2 sofre mutação. Quando se espalha, ocorrem erros e, embora a maioria dessas mutações não tenham consequências, há algumas que podem garantir uma sobrevida maior.

É o caso das três variantes mais contagiosas recentemente identificadas no Reino Unido, África do Sul e Brasil, que surgiram com poucas semanas de intervalo, quando nos meses de pandemia nenhuma mutação significativa havia sido registrada.

É uma coincidência? Talvez o acaso desempenhe seu papel, segundo os especialistas, mas não é só isso.

"Quando o número de infecções se reduz, o terreno do vírus é restrito" e, portanto, as chances de uma mutação problemática, explica Emma Hodcroft, epidemiologista da Universidade de Berna.

Mas, ao contrário, em um contexto de alta circulação do vírus, "as oportunidades do vírus encontrar um contexto ou uma pessoa que por acaso pode levar a algo que não queríamos", acrescenta, comparando a situação com um jogo de roleta russa.

"É uma mistura entre a quantidade de vírus que circula, ou seja, o número de vezes que jogamos o dado para o ar, e o contexto do vírus", ou seja, um mundo onde o vírus está muito disseminado, explica Wendy Barclay, virologista do Imperial College London.

"Este é o momento em que podemos esperar o aparecimento de variantes, devido à resposta imunológica. Porque o nível de imunidade global ao vírus aumenta devido às infecções e à vacinação", explicou em entrevista coletiva.

"Nos locais onde surgiram as variantes problemáticas, África do Sul e Brasil, já existe um nível significativo de resposta imunológica nas pessoas infectadas e curadas", acrescentou o especialista.

Mas alguns cientistas duvidam da relação entre a alta soroprevalência e o aparecimento das variantes.

"É mais do que provável que a evolução do vírus ocorra dentro de um paciente", ressaltou Bjorn Meyer, virologista do Instituto Pasteur em Paris.

Por exemplo, em pacientes com carências ou deficiências imunológicas, como alguns pesquisadores suspeitam no caso da variante britânica.

"Quando um paciente está imunodeprimido, o vírus pode durar mais tempo", afirmou Meyer à AFP.

Por exemplo, o vírus da covid-19 sobrevive cerca de dez dias em uma pessoa, mas há estudos que mostram que há pacientes que o mantiveram vivo por várias semanas, até vários meses após a infecção.

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