Número de MEIs cresce 247% em uma década

Piracicaba vive um ciclo de fortalecimento do empreendedorismo, com um avanço significativo dos pequenos negócios. Em uma década, o número de MEIs ativas na cidade cresceu 247%, saltou de 11.534 em 2015 para 40.025 em 2024, conforme levantamento disponibilizado pela Receita Federal, com base no registro do CNPJ.

Entre as microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP), o número de estabelecimentos cresceu 132,9%, de 4.713 em 2015 para 10.975 em 2024.
“Os dados comprovam que as pessoas geram seus próprios trabalhos e, com isso, criam oportunidades de crescimento para elas e para quem participa da sua cadeia de desenvolvimento. Isso inclui seus fornecedores, clientes e parceiros”, afirma Fábio Gerlach, gerente regional do Sebrae-SP em Piracicaba.

A cidade, segundo a análise, conta com diferenciais importantes, como uma economia dinâmica, presença de universidades e vocações bem definidas. “Existe um ambiente favorável ao empreendedorismo e à formalização”, explica o executivo.
Ele também comenta que instituições como o Sebrae colaboram com esse cenário, oferecendo atendimento qualificado, consultorias, capacitações e parcerias, ajudando a transformar ideias em negócios sustentáveis.

Piracicaba, tradicionalmente ligada ao agronegócio, avança com força em áreas como agroindústria, bioenergia, saúde, automobilismo, metalmecânica, turismo e sustentabilidade. São setores onde há um aumento na oferta de serviços, e cada empreendedor vende sua expertise. Os pequenos negócios aliam tradição e inovação tecnológica à geração de renda.

Era só uma festa de aniversário

O empreendedorismo em Piracicaba guarda histórias inspiradoras, como a de Luciene Paulino da Costa, de 51 anos, que começou a trabalhar como MEI há uma década e se tornou empresária, prestando serviços de recreação infantil em eventos sociais.

A Little Guests nasceu de forma curiosa. Em 2015, Luciene atravessava uma fase difícil: perdeu o pai e viu o marido sofrer um infarto. Entrou em depressão profunda e acabou sendo salva pela psicanálise.

“Na terapia, ela contou que, quando menina, adorava organizar suas próprias festinhas de aniversário. Pronto! Ela foi aconselhada a voltar a fazer o que lhe dava prazer. Começou organizando festas para filhos de amigos. Depois, passou a planejar festas do pijama e até as spartys, eventos exclusivos para meninas que misturam spa e celebração. As crianças se embelezam e se divertem.”

O negócio foi crescendo. Hoje, para dar conta da agenda lotada, ela oferece trabalho para nada menos que 90 recreadores, que se dividem em até 14 eventos a cada final de semana.

“Formalizei minha empresa, me reestruturei, faturei oito vezes mais e consegui montar um buffet. Agora lidero um time”, conta, orgulhosa.

Desemprego alavancou fenômeno

A opção pelo negócio próprio também precisa ser encarada como reflexo da situação econômica do país. Mauro Nogueira, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma que o avanço das MEIs, por exemplo, se intensificou com o aumento do desemprego, levando muitas pessoas a buscar alternativas para garantir sua renda.

A tese do pesquisador é endossada pelos números apresentados pela Fundação Seade, que registrou uma queda de 13% no número de empresas formais em Piracicaba entre 2014 e 2024.