INTERNACIONAL

Nas eleições de 2020, a manipulação nas redes sociais é 'made in USA'

As operações russas de manipulação de eleitores durante as últimas eleições presidenciais americanas prejudicaram a reputação das redes sociais, começando pelo Facebook

AFP
26/10/2020 às 11:49.
Atualizado em 24/03/2022 às 09:18

As operações russas de manipulação de eleitores durante as últimas eleições presidenciais americanas prejudicaram a reputação das redes sociais, começando pelo Facebook. As plataformas procuram não reviver o trauma de 2016, mas neste ano os reis de desinformação são americanos, afirmam os especialistas.

Com vídeos, fotos e montagens falsas ou enganosas compartilhadas a toda velocidade, os grupos que estão na origem dessas manipulações se passam por indivíduos reais com tendências conservadoras para semear o caos.

"Há uma verdadeira obsessão pela interferência estrangeira, mas as pessoas que têm mais interesse em influenciar no resultado de uma eleição são as que moram no próprio país: os americanos", disse à AFP Joshua Tucker, professor de ciências políticas da Universidade de Nova York.

Um recente relatório do Facebook confirma a tendência.

Somente nas primeiras semanas de outubro, o gigante das redes sociais eliminou 200 contas e 55 páginas do Facebook e 77 contas do Instagram, todas localizadas nos Estados Unidos.

Inspiradas nos métodos russos de 2016, o objetivo é semear a discórdia política e abalar a confiança dos eleitores no processo democrático, algo que o FBI acusou Moscou de fazer na última eleição.

O exemplo mais flagrante citado pelo Facebook é o de uma empresa americana de marketing que usou adolescentes do Arizona para publicar comentários a favor de Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, que mostravam adesão às causas conservadoras enquanto criticavam o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden.

Pelo o que Tucker e seus colegas observaram, nem os progressistas nem os conservadores são bons identificando essas tentativas de manipulação. São influenciados pelas divisões partidárias e pelos algorítmos das redes sociais, que fazem com que estejam expostos a apenas um ponto de vista.

Assim como o Facebook, o Twitter também está tomando medidas nesta área. Recentemente, eliminou uma conta que mostrava um policial negro, Trump e o slogan "Vote Republicano", porque violava as regras de manipulação da plataforma.

A conta tinha mais de 24.000 seguidores com apenas oito tuítes e uma publicação com mais de 75.000 "likes". Mas os especialistas em redes sociais garantem que a eliminação deste tipo de conta é mais a exceção do que a regra.

O tipo de notícias falsa divulgada pelos americanos mudou drasticamente desde 2016, alerta o professor Russell Muirhead, da Universidade de Dartmouth.

Naquela campanha eleitoral, usuários da internet afirmaram no fórum de discussão anônimo 4chan que a candidata democrata Hillary Clinton estava envolvida em uma rede de pedofilia montada em uma pizzaria de Washington.

Um homem que acreditou nessa informação falsa invadiu o restaurante com um rifle, sem causar vítimas.

Mas neste ciclo eleitoral, o Pizzagate foi substituído pelas teorias da conspiração do movimento QAnon, que afirma que Trump trava uma guerra secreta contra uma seita liberal mundial formada por pedófilos satânicos.

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