INTERNACIONAL

Narcodoenças na Colômbia, a sequela silenciosa no maior produtor de cocaína

O legado sombrio dos traficantes de drogas colombianos ecoa em todo mundo. Mas, em silêncio, em meio ao estigma e à dor, vivem os usuários de cocaína doentes

AFP
02/06/2020 às 10:16.
Atualizado em 27/03/2022 às 22:04

O legado sombrio dos traficantes de drogas colombianos ecoa em todo mundo. Mas, em silêncio, em meio ao estigma e à dor, vivem os usuários de cocaína doentes.

Perda do septo, depressão, problemas coronários, hepáticos, ou neurológicos, impotência sexual, necrose... A ONU alerta sobre as consequências do consumo.

Em uma Colômbia que luta contra a herança de Pablo Escobar, as autoridades alertam para um "aumento sistemático" no consumo de narcóticos.

Pouco menos de 1% dos colombianos admitiu ter-se drogado com cocaína em 2013, longe dos principais mercados: Estados Unidos (2,70%), Inglaterra (2,67%), ou Austrália (2,50%), segundo a ONU.

Embora a Organização dos Estados Americanos (OEA) descreva como "intermediário" o consumo no país responsável pela produção de 70% do pó branco, os especialistas temem um aumento do uso, quando o confinamento devido à pandemia de coronavírus for suspenso.

"As pessoas que reduziram o consumo durante a quarentena não podem sair agora para ter o que tinham antes, porque poderão ter uma overdose", alerta o diretor da Corporação Ação Técnica Social (ATS), Julián Quintero.

Na Colômbia, os dados sobre mortes e viciados são incertos, mas no mundo existem 35 milhões de pessoas com "transtornos" e que precisam de tratamento. Cerca de meio milhão de pessoas morrem a cada ano, conforme as Nações Unidas.

"As pessoas dificilmente procuram o médico porque são viciadas em cocaína e não acham que isso afeta outras coisas", diz o diretor científico do Centro de Reabilitação da Fundação Colectivo Aqui e Agora, Efrén Martínez.

"Ainda é embaraçoso falar sobre o uso de drogas", completou.

Abaixo estão testemunhos de condições derivadas do consumo desta droga.

O sangue não impedia Nicolás Merizalde de parar de "cheirar perico", como a cocaína é conhecida na Colômbia.

"Com um lenço, com o que quer que fosse, eu limpava o sangue, deixava secar um pouco, voltava (a aspirar) e voltava a despejar sangue", diz o homem de 47 anos.

Merizalde vira a cabeça, e não há vestígios de cirurgia. Mas seu septo agora é de platina.

O septo e os cornetos foram destruídos pelo consumo desenfreado que começou aos 14 anos de idade. Os danos geralmente ocorrem entre aqueles que cheiram por anos.

"A quantidade de elementos, de ácidos, que a cocaína possui, tem o poder de corroer o osso, literalmente", diz Martínez.

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