INTERNACIONAL

Na África subsaariana faltam água, material e médicos para enfrentar a pandemia

Nos hospitais faltam camas e respiradores, os médicos são poucos e recebem salários ínfimos, enquanto serviços como água corrente são um luxo

AFP
24/03/2020 às 12:16.
Atualizado em 04/04/2022 às 21:58

Nos hospitais faltam camas e respiradores, os médicos são poucos e recebem salários ínfimos, enquanto serviços como água corrente são um luxo. O coronavírus chegou a dezenas de países africanos e as previsões dos especialistas são funestas.

A África registrava oficialmente na segunda-feira à noite mais de 1.600 casos e 50 mortes. Os números são reduzidos na comparação com o balanço mundial da pandemia, mas a progressão do vírus é rápida, os testes insuficientes e os serviços de gestão da crise não estão preparados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um apelo na semana passada aos governos da África subsaariana para que "acordassem" e se preparassem para o pior dos cenários.

"Nenhum país do mundo está realmente preparado para isto, nem sequer aqueles com um sistema de saúde operacional", explica o doutor Yusuf Tanko Sununu, que preside a Comissão Parlamentar para a Saúde na Nigéria.

"E nos países pobres, os hospitais já enfrentam graves problemas".

Na Nigéria, país mais populoso da África com 190 milhões de habitantes, o vírus passou de dois casos registrados a mais de 35 em uma semana.

O ministro da Saúde, Osagie Ehanire, declarou que o país tem 350 unidades de emergências, mas não divulgou dados sobre os respiradores.

O cenário inquieta a Associação de Médicos da Nigéria (NMA).

"Há um único centro de isolamento em Lagos e tem capacidade de 50 leitos apenas", lamenta o presidente da NMA, Francis Faduyile.

"Entre 70 a 80% de nossas instituições carece de água corrente ou suficientemente limpa para lavar as mãos", completou.

"Não temos máscaras FPP2, ou pelo menos não sabemos quantas temos" explica à AFP. "Não sabemos quantos respiradores temos no país, mas sabemos que são insuficientes".

A Nigéria tinha 42.000 clínicos gerais registrados em 2019, segundo a NMA. O número representa uma média de médico por habitante cinco vezes inferior a dos países desenvolvidos.

Apesar dos discursos oficiais tranquilizadores em todos os países africanos, os dados sobre material e profissionais da saúde são ambíguos e a situação é sombria.

Um alto funcionário do ministério da Saúde do Quênia disse à AFP, sob a condição de anonimato, que "nas 47 províncias do país, apenas 25 hospitais estão equipados com unidades de emergência, e a maioria não são operacionais".

Camarões, que registrava oficialmente na segunda-feira 60 casos de Covid-19, "não tem nenhuma capacidade para administrar casos graves", afirmou o diretor de uma ONG internacional com sete neste país da África central.

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