INTERNACIONAL

Mulheres do Tigré denunciam estupros por soldados

Eles formavam fila "como se fossem buscar água". Todos os dias, em frente à cela de Tirhas, em um acampamento militar na região do Tigré, soldados etíopes esperavam sua vez para estuprá-la

AFP
09/03/2021 às 12:22.
Atualizado em 22/03/2022 às 09:27

Eles formavam fila "como se fossem buscar água".

Todos os dias, em frente à cela de Tirhas, em um acampamento militar na região do Tigré, soldados etíopes esperavam sua vez para estuprá-la.

O sofrimento da mulher de 40 anos durou duas semanas. Tudo começou no dia em que soldados a levaram de uma rua de Mekele, capital do Tigré, mergulhada em combates desde novembro, até que a trouxeram de volta para casa.

Duas noites depois, um soldado invadiu sua casa após o toque de recolher e a estuprou enquanto seus três filhos, de 11, 7 e 3 anos, morriam de medo no quarto ao lado.

"Não me sinto mais segura no Tigré. O simples fato de ver soldados uniformizados me angustia", diz Tirhas, cujo nome foi alterado para esta entrevista à AFP em um abrigo para mulheres vítimas de violência sexual.

"Ainda estou em choque e me pergunto: o que as mulheres do Tigré fizeram para merecer isso?"

Em 4 de novembro, o primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2019, lançou uma operação militar para derrubar o partido no poder na região, a Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF), a quem acusa de ter atacado bases do Exército.

Ele proclamou vitória em 28 de novembro, após a tomada de Mekele, mas tem havido combates desde então.

Quatro meses após o início da operação, aumentam os relatos de estupros, muitos deles atribuídos a soldados, dizem médicos e enfermeiras desta região do norte da Etiópia, na fronteira com a Eritreia.

No maior hospital de Mekele, várias mulheres procuraram tratamento após estupros cometidos por soldados etíopes e eritreus. Addis Abeba e Asmara negam que existam militares eritreus no Tigré, mas a sua presença foi comprovada.

Segundo os profissionais de saúde, este número é apenas uma pequena parte das violações perpetradas, uma vez que os combates impediram as vítimas de acessar os centros de saúde e muitas permanecem caladas por medo de serem socialmente discriminadas.

Embora não haja números, a violência sexual é uma realidade nesta guerra, diz Saba Gebremedhin, uma ativista dos direitos das mulheres no Tigré. "É usada como arma para humilhar e desumanizar as mulheres e também o povo do Tigré", afirma.

As violações demoraram a ser conhecidas porque as comunicações foram interrompidas desde o início dos combates e o acesso a trabalhadores humanitários e jornalistas foi restringido. O exército etíope não respondeu às perguntas da AFP.

No momento, vários líderes reconhecem que houve violações, mas evitam dizer quantas e designar os autores.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Gazeta de Piracicaba© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por