A maioria dos países do Conselho de Segurança da ONU destacaram nesta terça-feira (23) as implicações das mudanças climáticas na paz internacional, durante uma reunião virtual de dirigentes do órgão máximo da segurança global, ante a oposição taxativa da Rússia, que considerou esta ideia uma "distração"
A maioria dos países do Conselho de Segurança da ONU destacaram nesta terça-feira (23) as implicações das mudanças climáticas na paz internacional, durante uma reunião virtual de dirigentes do órgão máximo da segurança global, ante a oposição taxativa da Rússia, que considerou esta ideia uma "distração".
"As mudanças climáticas são uma ameaça para a nossa segurança coletiva", assegurou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, cujo país preside em fevereiro o Conselho de Segurança, e não hesitou em assinalar as posições divergentes que os 15 membros da instância têm sobre o tema.
"Sei que há alguns no mundo que pensam que se tratam apenas de coisas verdes de um monte de comedores de tofu que abraçam árvores, que não são pertinentes à diplomacia e à política internacional", explicou. "Não poderia discordar mais", afirmou.
"Quando se supõe que faremos algo se não agimos agora? (...) Quando massas de gente que foge da seca, dos incêndios ou dos conflitos para ter acesso a recursos chegarem às nossas fronteiras?", questionou.
"Queiram ou não, é uma questão de "quando" e não de "se" seus países e seus povos deverão enfrentar as consequências das mudanças climáticas sobre a segurança", acrescentou.
Pouco após seu discurso, o primeiro-ministro britânico teve que deixar a sessão, da qual também participaram o secretário-geral da ONU, António Guterres; o enviado americano para as mudanças climáticas, John Kerry; os presidentes francês, Emmanuel Macron; o tunisiano, Kais Saied, e o queniano, Uhuru Kenyatta.
Guterres se esforçou, por sua vez, em tornar tangível o problema climático. "No Afeganistão, por exemplo, onde 40% dos trabalhadores estão relacionados com a agricultura, as colheiras reduzidas jogam as pessoas na pobreza e na insegurança alimentar, tornando-as suscetíveis de serem recrutadas por grupos armados", expôs.
"O vínculo entre clima e segurança, embora seja complexo, é inegável", reforçou Macron. Entre os vinte países mais afetados por conflitos no mundo, doze fazem parte também dos países mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas", destacou.
Alguns dos membros não permanentes do Conselho, como Quênia e Níger, apoiaram a inclusão deste tema nas discussões diplomáticas das Nações Unidas.
Índia e México, no Conselho de Segurança desde janeiro e progressistas sobre o tema, também concordaram.
Macron pediu nomear "um ou uma enviada especial para a segurança climática", assim como a Alemanha.
No ano passado, Berlim tinha apresentado um projeto de resolução que previa a criação da posição de emissário da ONU, mas sob a ameaça de veto dos Estados Unidos, da Rússia e da China, a iniciativa não foi submetida a votação.
"É momento de reapresentar um texto forte sobre a mesa e adotá-lo", disse nesta terça o chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas.