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Menos afetada pelo coronavírus, África não canta vitória

Em 14 de fevereiro, o primeiro caso de coronavírus da África foi registrado no Egito. Longe das projeções alarmistas, três meses depois, o continente não viveu o cataclismo anunciado, embora continue a haver cautela quanto à evolução de uma pandemia que pode avançar lentamente e por um longo tempo

AFP
14/05/2020 às 21:15.
Atualizado em 30/03/2022 às 01:01

Em 14 de fevereiro, o primeiro caso de coronavírus da África foi registrado no Egito. Longe das projeções alarmistas, três meses depois, o continente não viveu o cataclismo anunciado, embora continue a haver cautela quanto à evolução de uma pandemia que pode avançar lentamente e por um longo tempo.

O continente registra pouco mais de 70.000 casos, 1,6% do total mundial, enquanto representa 17% da população do planeta. O vírus matou cerca de 2.500 pessoas, conforme os dados oficiais disponíveis até o momento.

Outro motivo de satisfação é que a letalidade do vírus na África Subsaariana é muito menor do que na Europa, segundo estimativas.

A comunidade científica considera várias hipóteses, mas prevalecem duas explicações principais: a precocidade das medidas de distanciamento social e a juventude da população.

"As medidas de confinamento foram adotadas cedo, abrandando a curva. A maioria dos países adotou essas medidas, assim que o primeiro caso foi detectado", ressalta Michel Yao, da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Brazzaville, questionado pela AFP.

"Na França, demoraram 52 dias para a adoção de medidas. Já havia 4.500 casos. Na Costa do Marfim, cinco dias após o primeiro caso, escolas e fronteiras foram fechadas. Uma semana depois, um toque de recolher foi decretado", diz o dr. Jean-Marie Milleliri, virologista e especialista em saúde pública tropical em Abidjan.

Outra explicação é a juventude da população africana: cerca de 60% tem menos de 25 anos.

"A idade média é de 19 anos. Também há uma expectativa de vida menor e menos pessoas idosas. Portanto, menos casos e um vírus menos ativo", acrescentou o especialista.

"No Ocidente, os mais afetados são os idosos", lembra o professor Omar Sarr, professor-pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade Cheij Anta Diop, em Dacar (UCAD).

Os idosos costumam ser "portadores de comorbidades", agravando os fatores de risco da COVID-19, observa ele.

"Além disso, a densidade populacional é menor na África, limitando a disseminação do vírus, e há menos mobilidade das populações africanas em comparação às ocidentais", explica Yap Boum II, virologista da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Camarões.

"A maioria dos casos está concentrada nas capitais e grandes cidades, menos nas áreas rurais", diz Michel Yao.

Neste ponto, os cientistas também não têm certezas.

"Existe uma imunidade cruzada, devido à longa exposição a vários microrganismos e boa cobertura de vacinas, em especial a BCG, a vacina contra a tuberculose", diz o professor Omar Sarr.

"Há um possível efeito de imunidade adquirida, devido à pressão infecciosa global. Existem muitos doentes na África, portanto, as populações são mais imunizadas do que as populações europeias para patologias como o coronavírus", estima o dr. Milleliri.

Ele também fala de uma "competição" entre infecções. "Quando vários vírus patogênicos competem, alguns podem bloquear o desenvolvimento de outros", explica.

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