Shamit Patel, um médico que está na linha de frente da batalha contra o coronavírus em Nova York, um dos epicentros mundiais da pandemia, prepara-se mentalmente para o pior nos próximos dias
Shamit Patel, um médico que está na linha de frente da batalha contra o coronavírus em Nova York, um dos epicentros mundiais da pandemia, prepara-se mentalmente para o pior nos próximos dias.
Quase 90% dos pacientes que o dr. Patel atende no Beth Israel, um dos hospitais de Mt. Sinai em Manhattan, têm COVID-19, a doença do contagioso novo coronavírus que provocou pelo menos 790 mortes na cidade de Nova York.
"O pior cenário é o que está acontecendo na Itália, onde você fica sobrecarregado com a quantidade de pacientes e não tem equipamento. É algo que esperamos não ver aqui, mas mentalmente estou me preparando", disse o médico de 46 anos em uma videoconferência com a AFP.
"No ritmo que estou vendo, o pico pode chegar ao final desta semana, ou na próxima", disse.
O estado de NY está em uma corrida contra o tempo para aumentar o número de equipamentos médicos e a capacidade hospitalar. De acordo com o governo estadual, porém, o déficit de leitos nos hospitais e de respiradores ainda está na casa dos milhares.
"Na semana passada, o percentual de pacientes com coronavírus que chegavam ao hospital passou de 50% para 75% e, agora, são 85%-90% do total", afirmou Patel.
O hospital está preparado para enfrentar a crise, mas está praticamente lotado de pacientes da COVID-19.
O fluxo de pacientes no Beth Israel ilustra o que acontece em Nova York, onde os casos confirmados de coronavírus passaram de 463 há duas semanas para mais de 36.000 na terça-feira.
"Talvez tenhamos o dobro, ou o triplo, de pacientes", prevê Patel. "Você não pode realmente triplicar o número de pacientes que está atendendo em um dia e administrar um tratamento efetivo", completou.
Ele está especialmente preocupado com a falta de respiradores suficientes nas UTIs. "Então, você deve começar a escolher quem receberá o respirador e quem não vai receber", desabafou.
"O maior desafio é tentar decifrar exatamente o que funciona como tratamento e encontrar uma maneira de evitar que o paciente entre em Síndrome de Desconforto Respiratório Agudo" (SDRA), disse.
"Esta doença não discrimina e pode afetar qualquer um e provocar dano pulmonar a uma pessoa jovem, ou idosa", destacou o médico, que permanece calmo, apesar do aumento do número de casos.
Ele destacou que tem apenas duas semanas de experiência com o novo coronavírus, então, de certa maneira, trabalha um pouco às cegas.
"É estressante saber que vi um pequeno número de pacientes, mas isso não significa que tenha visto tudo, porque cada caso é diferente", relatou.