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Maye, um anjo para crianças exploradas na Colômbia

Mayerlín Vergara encontrou a causa de sua vida nos classificados, há duas décadas. Mas agora, depois de ajudar tantas crianças exploradas sexualmente, esta colombiana sente que enfrenta um drama ainda maior: o abuso de menores venezuelanos que cruzam a fronteira sozinhos e famintos

AFP
02/10/2020 às 20:38.
Atualizado em 24/03/2022 às 11:14

Mayerlín Vergara encontrou a causa de sua vida nos classificados, há duas décadas. Mas agora, depois de ajudar tantas crianças exploradas sexualmente, esta colombiana sente que enfrenta um drama ainda maior: o abuso de menores venezuelanos que cruzam a fronteira sozinhos e famintos.

Maye, como costuma ser chamada, tem 45 anos e seu trabalho foi reconhecido nesta quinta-feira (1º) por meio do Prêmio Nansen, concedido pela Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), por seu heroísmo em proteger as crianças mais vulneráveis, conforme justificou a organização.

A honraria mal faz esta professora e ativista sorrir em meio à tragédia que, segundo ela, vivem muitas crianças em La Guajira, departamento na fronteira desértica do norte da Colômbia. Em 2018, ela chegou àquela área, depois de ter trabalhado durante anos em prol de menores vítimas de exploração sexual em Barranquilla e Cartagena, no Caribe colombiano.

A intenção de Maye era ficar por um curto período, para investigar este fenômeno em La Guajira. Porém, o que ela encontrou a fez adiar indefinidamente seu retorno a Cartagena. Familiarizada com a dor da causa, Maye se deparou com algo novo e mais doloroso: uma migração jovem e abusiva que vinha de uma Venezuela atingida pela crise econômica.

"Algumas crianças vêm sozinhas, outras vêm com o vizinho, porque a mãe disse: "Leva, tem comida lá". Outras vêm com pessoas que as sequestraram na Venezuela (...) e as exploram aqui", descreveu a ativista em conversa com a AFP.

Em suas palavras, o que acontece é um coquetel de infortúnios. "O impacto da migração se soma ao impacto da violência sexual. É uma bomba-relógio (...) É a coisa mais difícil que vivenciei em toda a minha trajetória."

Desde abril de 2019, Maye administra uma casa da Fundação Renascer que acolhe crianças vítimas de abuso e exploração sexual. Segundo ela, 75 menores passaram por um processo de "recuperação" no local, que fica em Riohacha, capital do departamento. Muitos são crianças indígenas dos povos Yukpa e Wayuu, que habitam os dois lados da fronteira.

Castigado pela pobreza e pela fome, o departamento colombiano de La Guajira, que, paradoxalmente, possui a maior mina de carvão a céu aberto da América Latina, tornou-se um destino forçado para os venezuelanos.

A crise empurrou cerca de 1,8 milhão de venezuelanos para a Colômbia. Muitos chegaram a pé, por passagens irregulares conhecidas como "trochas", onde gangues dedicadas a todo tipo de tráfico ilegal ditam as regras.

Quem optou por ir para La Guajira se viu em uma região onde 65% da população não tem suas necessidades básicas atendidas, segundo o censo mais recente. "É uma área de uma riqueza ambiental maravilhosa. Mas aqui mesmo, na capital Riohacha, (...) a água chega uma vez por semana", comentou Maye.

Esta mulher, solteira e sem filhos, divide seu tempo entre o acompanhamento de menores que arranca dos exploradores e a busca por aqueles que ainda não foram resgatados. "É preciso procurar os meninos e meninas, eles não conseguem (...) pedir ajuda", explicou.

Em sua luta, Maye encontrou incentivo em crianças que foram resgatadas e se tornaram chefs, designers, médicos e contadores.

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