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Manaus, a capital amazônica que precisou lutar para respirar

O pior de ter que cuidar de oito parentes com covid-19 ao mesmo tempo é decidir quem precisa mais de oxigênio, relata Laís de Souza Chaves, uma estudante de Manaus, capital da Amazônia brasileira

AFP
24/03/2021 às 17:11.
Atualizado em 22/03/2022 às 04:45

O pior de ter que cuidar de oito parentes com covid-19 ao mesmo tempo é decidir quem precisa mais de oxigênio, relata Laís de Souza Chaves, uma estudante de Manaus, capital da Amazônia brasileira.

A pandemia sufocou a cidade no começo do ano, esgotou as reservas de oxigênio nos hospitais e obrigou Laís, de 25 anos, e sua irmã, Laura, de 23, a improvisar uma unidade de terapia intensiva em casa, sem nenhuma formação médica.

A busca por cilindros de oxigênio se tornou a principal preocupação de centenas de famílias. E quando as duas irmãs conseguiam, tinham que compartilhá-lo entre os oito membros de sua família contagiados, entre os quais estava o pai das jovens.

Elas tiveram que aprender a manipular os reguladores, conectar tubos, medir a pressão do fluxo e dar preferência a quem mais precisava, sem informar aos demais para evitar piorar a situação.

"Tenho crise de pânico se alguém falar a palavra oxigênio. Eu me tremo toda", contou Laís à AFP.

Em abril e maio do ano passado, e novamente em janeiro e fevereiro deste ano, Manaus se tornou a imagem do horror que os especialistas e muitos dirigentes políticos preveem quando pedem que a população respeite as medidas de confinamento, use máscaras e mantenha um distanciamento prudente dos demais.

Os cemitérios da cidade abriram valas comuns e caminhões frigoríficos foram mobilizados para armazenar os cadáveres à espera de ser enterrados.

A primeira onda foi tão descomunal que alguns especialistas pensaram que os 2,2 milhões de habitantes desta cidade encravada na floresta haviam atingido a imunidade de rebanho.

A segunda onda demonstrou de forma cruel que esta hipótese estava errada.

Os especialistas suspeitam agora que o brutal repique possa ter ocorrido devido a uma variante local do vírus, conhecida como P1, muito mais contagiosa do que a cepa original.

Em dezembro, a chamada "variante brasileira" foi detectada em 51% dos pacientes diagnosticados com covid em Manaus. Em janeiro, o percentual chegou a 91,4%, segundo pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

No começo de fevereiro, chegou-se ainda a uma média semanal de 110 mortos por dia, quase o triplo do que a primeira onda.

A falta de leitos nas unidades de terapia intensiva deixou os pacientes abandonados à própria sorte.

"Não só o sistema de saúde superlotou, mas também aconteceu a falta de insumos e de oxigênio. Foi uma situação extremamente dramática.... Era um desespero", disse a doutora Adele Benzaken, consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS), baseada em Manaus, sua cidade natal.

"Tu não tens ideia do que é familiares correndo para pegar um botijão de oxigênio. Era a briga nos locais que vendiam oxigênio", lembra a profissional.

"Foi um clima de guerra. Eu nunca participei de nenhuma guerra, mas a sensação que eu tive foi daquela desorganização que existe num bombardeio, quando as pessoas não sabem que fazer, aquela correria, desespero para salvar vidas", explica.

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