INTERNACIONAL

Maior fabricante de luvas do mundo acusado de desprezar saúde de trabalhadores na pandemia

Sheikh Kibria, um bengalês que emigrou para a Malásia, tem uma recordação amarga do dormitório superlotado em que sua empresa, a maior fabricante de luvas de proteção do mundo, o alojava quando explodiu a pandemia de covid-19, que infectou milhares de colegas de trabalho

AFP
26/12/2020 às 11:52.
Atualizado em 24/03/2022 às 00:14

Sheikh Kibria, um bengalês que emigrou para a Malásia, tem uma recordação amarga do dormitório superlotado em que sua empresa, a maior fabricante de luvas de proteção do mundo, o alojava quando explodiu a pandemia de covid-19, que infectou milhares de colegas de trabalho.

A AFP utilizou pseudônimos para proteger a identidade dos funcionários.

O grupo malaio Top Glove registrou uma alta expressiva do lucro este ano e a cotação na Bolsa disparou mais de 400%, consequência da pandemia de coronavírus, que levou muitos países a procurar seus equipamentos de proteção.

Em uma entrevista à AFP, o migrante, que tinha longas jornadas de trabalho e recebia 300 dólares mensais, descreve condições de vida indignas, com dormitórios em que até 25 pessoas passavam a noite amontoadas.

Outros funcionários afirmaram que a empresa não fez o suficiente para protegê-los, apesar de vários alertas.

No início do ano, o governo dos Estados Unidos proibiu a importação de produtos da Top Glove, justamente por acusações sobre trabalhos forçados na empresa.

Mais de 5.000 funcionários, o equivalente a quase 25% da força de trabalho, testaram positivo na área que abriga as fábricas e os alojamentos, nas proximidades da capital da Malásia, Kuala Lumpur.

Após a explosão de casos, o governo ordenou em novembro que a Top Glove fechasse 28 das 41 fábricas que administra na Malásia.

Mas a fabricante, que fornece quase 25% das luvas vendidas em todo o planeta, advertiu que as entregas seriam atrasadas e os preços registrariam alta.

Ao mesmo tempo, as autoridades examinam medidas contra a empresa por ter alojado os funcionários em condições precárias.

Sheikh Kibria afirmou que os dormitórios lotados agravaram a situação.

"O quarto tinha um espaço mínimo. É é quase impossível manter limpo quando tantas pessoas estão juntas", disse.

Quando a situação piorou no mês passado, a Top Glove começou a levar os operários infectados com covid-19 para o hospital. Pessoas que tiveram contato entraram em quarentena.

E, embora a empresa tenha mencionado a possibilidade de reduzir o número de pessoas por dormitório, "os quartos continuaram superlotados e os casos de coronavírus aumentaram", afirmou Karan Shrestha, migrante nepalês, à AFP.

"O grupo não garantiu a segurança dos operários. Os que dirigem a empresa se preocupam mais com o lucro", disse.

A Top Glove, que tem quase 21.000 funcionários e produz 90 bilhões de luvas por ano, afirma que tentou melhorar a situação.

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