INTERNACIONAL

López Obrador passa de crítico a favorável ao livre comércio em busca de reanimar a economia

O primeiro presidente de esquerda do México, cuja cruzada contra o "neoliberalismo" é defendida como uma batalha econômica e moral, deposita agora suas esperanças no T-MEC, o renovado acordo de livre comércio com os Estados Unidos e o Canadá, como forma de restaurar uma economia fragilizada

AFP
30/06/2020 às 14:48.
Atualizado em 27/03/2022 às 00:06

O primeiro presidente de esquerda do México, cuja cruzada contra o "neoliberalismo" é defendida como uma batalha econômica e moral, deposita agora suas esperanças no T-MEC, o renovado acordo de livre comércio com os Estados Unidos e o Canadá, como forma de restaurar uma economia fragilizada.

Esse paradoxo reflete a exitosa integração da América do Norte a partir do livre mercado, um antigo anátema para líderes nacionalistas como Andrés Manuel López Obrador, que hoje vê o acordo como uma tábua de salvação para os efeitos da pandemia à segunda maior economia latino-americana.

"Para o México isso significará investimento. (...) É por isso que é muito importante que o acordo entre em vigor" na próxima quarta-feira, afirmou López Obrador, que em breve fará sua primeira viagem ao exterior em 18 meses como presidente para se reunir com Donald Trump em Washington e oficializar o novo acordo.

"Estamos prestes a sair da pandemia e precisamos reativar a economia, sair da recessão econômica, após a queda ocasionada pelo coronavírus", acrescentou ele durante sua entrevista coletiva na manhã da última segunda.

A urgência do presidente é mais do que justificada. O banco central mexicano acredita que a economia possa sofrer queda de 8,8% neste ano, enquanto o FMI vê um declínio de 10,5%.

Além disso, mais de 12 milhões de mexicanos, a grande maioria dependentes da economia informal, pararam de procurar emprego em abril por causa do confinamento e da consequente suspensão da produção no país.

Sob a ameaça de um país empobrecido, a promessa de livre comércio parece um milagre para o presidente.

"Signfica realmente algo extraordinário, porque o T-MEX, o Nafta, sempre foi considerado como o pilar do neoliberalismo", explica Luis de la Calle, economista que negociou o primeiro acordo que iniciou a integração com os Estados Unidos, em 1994.

O especialista elogia a atitude presidencial, ao lembrar que o Méxicou saiu das suas duas maiores crises econômicas recentes, em 1995 e 2009, graças ao aumento das exportações.

Porém, a fé de López Obrador no T-MEC não coincide com suas ações de política econômica e sua relação com o investimento privado.

Desde que cancelou a construção de um aeroporto na Cidade do México, avaliado em US$ 13 bilhões, no início de seu mandato, houve um aumento dos sinais contraditórios.

Neste ano, as decisões do governo levaram à suspensão da construção de uma cervejaria e de uma usina termelétrica, cada uma avaliada em mais de US$ 1 bilhão, ampliando a existência de um fator que funciona como uma bomba para os investidores: a incerteza.

Sua determinação em fortalecer o setor energético nacional, em nomes como a petroleira Pemex e a elétrica CFE, também o levou a rever contratos e regulamentos que afetaram os interesses privados em um setor estratégico para a integração industrial com os EUA, outro ponto virtuoso do pacto comercial.

De la Calle aponta cinco atitudes necessárias para valorizar os benefícios do T-MEC: coordenar a reabertura econômica com os Estados Unidos, melhorar a logística binacional, incentivar um mercado de energia abundante e eficiente, apostar em tecnologia e respeitar as regras do jogo.

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